28/01/2018 às 09h32min - Atualizada em 28/01/2018 às 09h32min

Uma vida amorosa. Em poema. Em prosa.

Portal Corrente

João bateu à porta. Eu sabia que era ele. Conhecia sua impaciência e a firmeza do seu pulso. Não esperava que viesse, não esperava que estivesse ali naquele momento. Principalmente quando um dilúvio ameaçava varrer a cidade do mapa. Exagero, eu sei. Mas a chuva não dava trégua.

 

Não sabia se fazia prosa

Não sabia se fazia poesia

Não sabia se doía na alma

Ou se compunha uma melodia

 

Cansei desses olhos tristes

Eu não sabia se escrevia

Numa proeza de sinergia

Eu via que tudo morria

 

Levam lágrimas na brisa

Não aguentava mais aquela agonia

Uma vilania do destino

Em nada poderia interferir

 

Fecharia os olhos em zelo

Ficaria de joelhos em apelo

Juntaria as mãos em prece

Acreditaria no caminho que merece

 

Nessa poeira imunda

Ao fundo, bem raso, de uma alma profunda

Com sóis, girassóis, lençóis

Numa estrada inteira sem nós

Nesse ínterim sucumbir ao pecado

De ser eternamente odiado

Ao céu, ao umbral, ao diabo!

Um inferno completo idolatrado

 

Abri a porta. Ouvi todas as promessas. As já quebradas e as recentemente juradas. Deixei que entrasse, se acomodasse e se empossasse. Era dele, de fato. Mesmo com os erros mais esdrúxulos de quem sempre acertava. A chuva acalentou. O abraço acalmou. A vida voltava a rodar nos trilhos de ferro. O coração cantava.

 

Me diga que vai ficar tudo bem

Que nós dois juntos enfrentamos um trem

Construindo uma vida repleta

Enquanto dure, completa

 

Permanecendo ao lado

Calado, colado, amado

Em situações atrozes

Inconstâncias velozes

 

Em termos findando brigas

Suprindo infiéis intrigas

De uma normalidade abstrata

No pouco da palavra sensata

Estabilizou-se um certo momento

Onde a calmaria calou o tormento

Rangidos esparsos de sorriso

De passos nunca oprimidos

 

No sempre triunfal

De um falso paraíso astral

A gama da cruel felicidade

Doava agora uma doce realidade

 

Gabriela Castro Lima Aguiar

 

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