11/02/2018 às 09h00min - Atualizada em 11/02/2018 às 09h00min

Ser Música

Por Gabriela Aguiar

Portal Corrente
            Os pés se moviam freneticamente ao ritmo da dança. Seus quadris balançavam devagar de um lado para o outro, numa dança sensual e os braços bailavam espontaneamente no ar. Estava livre. Sentia-se livre! A dança era o único meio que encontrava para expressar toda a paixão que havia dentro de si, toda a explosão, mesmo que não fosse por ninguém. Mesmo que fosse por alguém que nunca existiria.
 
            Seu vestido com as bainhas vermelhas, na altura do tornozelo rodava por todo o salão. Segurava-o com tanta naturalidade que os outros que viam pensavam ter sido feito perfeitamente para aquilo. Assim como seus sapatos pretos baixos que pisavam no chão sem deixar nenhuma marca. Tudo parecia combinar com ela, a música, o ambiente, a dança, a flor branca que estava no cabelo castanho.
 
            Seus olhos estavam totalmente concentrados no mundo da lua. Não notara ninguém ao seu redor, nem queria. Cansara-se de pessoas e todas as expectativas que existiam dentro de cada uma delas, inclusive das suas próprias. Seus pensamentos viajavam numa estrada sem volta e na contramão do tempo.
 
            A música parou e um rapaz a convidou para a próxima dança. Ele era alto e esguio, com os cabelos negros cortados bem curtos e olhos da mesma cor,
muito intensos. Ela teve a certeza de que ele era um bom observador, por isso não perdeu tempo com conversas superficiais. Nem queria conversar, só dançar. Aceitou o convite.
 
            Os passos de ambos moveram-se compassadamente. Tinham uma boa simetria. Pareciam já ter ensaiado a dança previamente, quando na verdade nunca tinham se visto. Ela gostou daquilo, sorriu. Ele percebeu, também sorriu. Os corpos encontravam-se e de distanciavam no tempo certo. As mãos não se soltavam em momento algum. Não queriam deixar ir embora.
 
            Ele notou todos os sorrisos, todos os olhares e todo o rubor dela. Era de fato um bom observador. Principalmente quando queria muito algo e desde que a vira no começo da noite, não pensara em outra coisa. Era algo no seu jeito, na maneira como ela se movia, mesmo estando com a mente em qualquer outro lugar, menos ali. Quis trazê-la de volta e por alguns momentos obteve êxito.
 
            A música acabou. Ela sorriu para ele em agradecimento e sem se despedir sumiu no meio das outras pessoas. Ele não entendeu. Ficou pensando no que poderia ter feito de errado e como ela mudara assim tão depressa. Ainda procurou-a, mas não a encontrou em lugar nenhum. Não estava mais lá.

            A moça trocou de roupa, vestia agora toda a sua sina. Gostara de dançar com o rapaz, mas sabia que não duraria mais do que algumas músicas. Não seria de mais ninguém, só dela mesma. Tinha bons motivos e já se conformara, por isso não se entristecia e nem se alegrara. Não sentia mais nada, além da música. 

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