Lá no Retiro de Baixo, há alguns anos, não contávamos com escolas que pudessem ensinar às crianças da localidade a aprender as primeiras letras. As dificuldades para os pais colocarem seus filhos para estudar eram inúmeras.
Aqueles que tinham melhores sorte, eram obrigados a matriculá-los em escolas na cidade, mantendo quase a despesa de duas famílias, pois os filhos passavam os meses letivos no Corrente enquanto os pais continuavam nas roças buscando o sustento para bancar os estudos da meninada.
Eis que, depois de muitos sofrimentos, a Prefeitura Municipal, na gestão de Dr. Misael, finalmente iniciou a instalação de uma escola primária que pudesse oferecer o mínimo de acesso àquelas crianças que cresciam sem nunca terem iniciado o traquejo na aprendizagem das primeiras letras.
De início, a comunidade do local logo se interessou pela oportunidade que lhes era oferecida e viam ali a grande chance de verem seus meninos finalmente poderem frequentar a tão sonhada escola.
O véio Nelson e dona Hortência, então vaqueiros da Fazenda Formigueiro, de propriedade do Sr. Nalvo Cunha (Seu Ná), eram pais de uma numerosa família - como se diz aí no Corrente, "minino cumo diabo". Logo providenciaram a matrícula de Laura, a mais velha da turma.
No primeiro dia de aula, o véio Nelson chama Laura e passa as ordens de como deveria se comportar na aula. Óia aqui minina, tudo que a professora mandar, você tem que fazer.
Laura então se encaminha para a escola e, obedecendo as ordens do véio Nelson, passa repetir tudo o que a professora diz e travam o seguinte diálogo;
Professora : Lê Laura...
Laura Repete: Lê Laura...
Professora : Estuda Laura...
Laura Repete : Estuda Laura...
Professora : Tá me rumedando...
Laura Repete : Tá me rumedando Laura...
Professora : Laura vou de botar de castigo...
Laura Repete : Laura vou de botar de castigo.
Aí nessa toada, Laura percebeu que não levava a mínima vocação para a coisa e terminou por abandonar a escola.