30/07/2017 às 12h05min - Atualizada em 30/07/2017 às 12h05min

A ermitã

Por Gabriela Aguiar

Portal Corrente

             

Era o quinto livro que devorava em menos de uma semana. As páginas amareladas serviam como alimento para sua alma faminta. Engolia cada letrinha com desespero e para que não pudessem fugir.

            Preenchia todos os seus vazios e frustrações lendo qualquer história com o final feliz. Por alguns momentos (enquanto estava lendo) podia ser qualquer personagem e viver onde eles estivessem. E ela já tinha sido tanta coisa, até ladra de famosas obras de arte na Itália... E ao mesmo tempo não havia sido nada, pelo menos não de verdade.

            Mas não era hora de pensar sobre a sua vida. Estava lendo e nesse exato momento era uma duquesa que vivia na Inglaterra há alguns séculos atrás. Alheia aos bens materiais, apaixonada por um homem pobre e não queria casar-se com quem o seu pai escolhera.

            Ela sorriu, não se casaria jamais. Não que detestasse romance, ela gostava, mas tinha certeza de que não se casaria nunca. Talvez por escolha, talvez por ser incompreendida pela maioria das pessoas (leiam-se todas).

            Aos 27 anos, morando sozinha num apartamento pequeno, sua única paixão eram os livros que ostentava em seu escritório (o maior cômodo do lar). Trabalhava como secretária em uma empresa e nas horas livres lia livros. Tinha poucos amigos e visitava a família em períodos natalinos. Era cercada de conhecimento e solitária de pessoas. Uma ermitã, vivendo numa cabana de capas duras e folhas amareladas.

            Não se incomodava. Não se sentia infeliz. Esquecia-se de tudo ao mergulhar dentro de um livro. E ainda tinham tantas obras a serem lidas... Ela sim seria feliz para sempre ou pelo menos até que durassem todas as histórias escritas do mundo. Vivia por engano no mundo real.

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