24/01/2014 às 15h42min - Atualizada em 24/01/2014 às 15h42min

Governo deve à população do DF planejamento efetivo de segurança pública

Por Ibaneis Rocha

Diário do Poder

Na madrugada do último domingo, assaltantes roubaram lojas de conveniência em um posto de gasolina na quadra 307 Sul. Um homem de 23 anos foi alvejado por dois tiros no abdômen. De acordo com notícias publicadas pela imprensa, foi submetido a procedimentos cirúrgicos, recebeu alta e passa bem. Quinze dias antes, o brigadeiro reformado da FAB João Carlos Franco de Souza, de 66 anos, foi vítima de latrocínio cometido por quatro pessoas — já presas, segundo informações da Polícia Civil — na quadra 112 Sul.

Seriam duas notícias espantosas noutros tempos na capital do país. Não hoje. A cena se tornou parte do cotidiano em Brasília e nas cidades que compõem o Distrito Federal e entorno, nas quais a situação é bastante pior. Apesar de as autoridades de Segurança Pública terem comemorado a prisão dos acusados pelo latrocínio, cinco dias depois do crime, e exaltarem a rapidez com que agiu, no caso, a Polícia Civil, o fato é que a sensação de insegurança é palpável em Brasília.
E os números da violência não são nada animadores. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do DF, os crimes contra o patrimônio cresceram muito. Já os homicídios caíram 14%, na comparação entre os anos de 2012 e 2013. No material de divulgação destes números, o governo comemora o fato. Diz, textualmente, que houve “100 vidas protegidas”, já que no ano passado 692 pessoas foram assassinadas contra os 792 cidadãos que morreram em 2012.

Convenhamos, não é possível falar em “vidas protegidas” com um número alarmante como esse, apesar da queda. Os números de furtos em residências e roubos a transeuntes colocariam qualquer sociedade em estado de alerta. O aumento no primeiro caso foi de mais de 1.000% (52 furtos a casas e apartamentos em 2012 contra 598 em 2013) e, no segundo, de 750% (196 transeuntes roubados em 2012 contra 1.664 no ano passado). Isso sem falar em sequestros relâmpagos, saidinhas de bancos e outras expressões que identificam ações criminosas que há muito pouco tempo sequer eram conhecidas dos moradores de Brasília.

Além dessa violência, a população vive a violência do silêncio. As autoridades não se manifestam de forma efetiva e, quando falam, parecem viver em outra realidade. O atual quadro passa a impressão que os únicos lugares seguros da cidade são os gabinetes das autoridades. Não se vê efetivo policial nas ruas.

O governo do Distrito Federal deve à população ações efetivas de curto prazo e planejamento de longo prazo, onde sejam previstos investimentos programados em tecnologia de informação. Agentes das polícias Militar e Civil devem ser muito melhor preparados para o ofício. Devem, para isso, passar por treinamento e avaliações de desempenho cíclicas. É necessária uma verdadeira reorientação das polícias, com cursos de reciclagem contínuos e com fiscalização de desempenho e adequação às modernas técnicas policiais.

O cenário pede, emergencialmente, que se tenha uma nova visão do policiamento e da segurança pública na cidade, não só em relação à repressão, mas a prevenção dos delitos que amedrontam os cidadãos no coração da capital do Brasil. Percebe-se que é hora de a sociedade cobrar as autoridades quando, da janela do carro, vê-se situações de extrema pobreza ao lado dos prédios que representam os três poderes, enquanto se escuta no rádio ouvintes reclamando pelo fato de não serem atendidos no telefone 190.

É passada a hora de o governo, com parcerias e sob os olhares de entidades da sociedade civil organizada, elaborar um planejamento estratégico de enfrentamento da criminalidade efetivo, com menos fogos de artifícios e mais trabalho interno para arrumar a casa. E, claro, pensar em métodos para reduzir a drástica desigualdade social cujo fosso só faz aumentar. Porque, todos sabemos, não há combate à criminalidade sem combate à miséria.

Ibaneis Rocha é presidente da Seccional da Ordem dos Advogados do Distrito Federal (OAB-DF)

 


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