02/03/2018 às 13h13min - Atualizada em 02/03/2018 às 13h13min

Promotor Rômulo Cordão se emociona ao tratar de ameaças e ataques pessoais

Coordenador do GAECO tratou da possibilidade real de ser assassinado durante a Operação Mercadores, que combateu a grilagem de terra no sul do Piauí

180 Graus
Rômulo Cordão no momento em que interrompeu a palestra emocionado (Foto: Tiago Amaral)

Paraibano, o promotor sensação do momento no Piauí, o coordenador do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado do estado (GAECO-PI), veio às lágrimas ao tratar das ameaças sofridas ao longo da sua vida por combater corruptos e corruptores, pelas investidas pessoais levianas visando denigrir a sua imagem e, principalmente, pelas horas difíceis já vividas ao ter que se afastar da família para fazer valer os ditames da lei.

Cordão foi um dos palestrantes no I Simpósio de Inteligência Institucional do Tribunal de Contas do Estado do Piauí. A sua exposição é considerada uma das melhores e mais emocionantes até o momento no evento da Corte de Contas, quando tratou da expertise nas investigações contra os corruptos, em meio ao tema “O GAECO DO PIAUÍ: Inovações, resultados e desafios no combate ao Crime Organizado”.

“Quem se coloca a fazer um trabalho desses, quem é investigador, MP [Ministério Público], ou órgão de controle, fiscalização, não se engane não: a retaliação vem. Quando a gente prende um pobrezinho: ‘Doutor, pelo amor de Deus, eu errei’. Mas essa turma (colarinho branco) não. Você começa a receber representação de tudo que é tamanho”, alertou.

“Então você responde na Corregedoria, começam a vasculhar a sua vida. Graças a Deus eu nunca tive nenhum pecado na minha atividade profissional. Tentaram jogar contra a minha vida pessoal, mas também não colou, eu consegui me safar. Mas isso tem um custo. Porque você tem família, você perde a vida social, você se afasta da família, você não pode andar em determinados locais. Então tem um custo fazer tudo isso, e eu vivi...”, se emocionou e emocionou, recorrendo ao copo com água, e foi aplaudido pelos presentes - representantes de 24 estados brasileiros. As revelações fazem referência à época que Cordão atuava no sul do estado.

Antes delegado de polícia, há cerca 10 anos Cordão atua no Ministério Público do Piauí, oito deles no sul do estado, em municípios como Parnaguá e Corrente. Esteve por trás e ajudou em grandes casos, como o que investigou o juiz Osório Marques Bastos, de Curimatá. O magistrado respondia por duplo homicídio - um deles queima de arquivo, também era contumaz em favorecer criminosos e ajudar outros do naipe de Hildebrando Pascoal, além de ser acusado de falsificar cartas precatórias. Osório Bastos era um ser bastante temido na região.

Outra notória atuação de Rômulo Cordão foi nas investigações contra o então prefeito de Curimatá, José Arlindo da Silva Filho, conhecido como Zezinho ou “Gordo do Tomate”, temido e acusado de envolvimento em roubos de cargas.

O promotor atuou ainda, no sul do Piauí, contra uma organização criminosa de tráfico de drogas formada por policiais. Logo em seguida, veio a Operação Mercadores, que desbaratou uma ampla quadrilha de grilagem de terras e levou consigo mais um juiz, dessa vez Carlos Henrique Teixeira, acusado de envolvimento no esquema criminoso, e que acabou perdendo a toga - chegando a ter Djalma Filho, aquele, como um dos seus advogados. Aqui, grampos captaram planos para assassinar o promotor.

Mais recentemente Cordão atuou na Operação Escamoteamento, cujo objetivo foi combater crimes de fraude em licitações, crimes contra a administração pública, organização criminosa e lavagem de dinheiro no município de Cocal, no norte do Piauí, considerado um antro de corrupção e leviandades no setor público, com envolvimento de políticos e empresários corruptos.

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Entrevista com Rômulo Cordão após a palestra...

Rômulo Cordão durante sua exposição (Foto: Tiago Amaral)

Rômulo Cordão durante sua exposição (Foto: Tiago Amaral)

Rômulo Cordão durante sua exposição (Foto: Tiago Amaral) 

180: Bom, primeiro eu gostaria de lhe dar os parabéns pela exposição. Acredito que foi algo assim vindo da alma. Eu achei interessante que o senhor abordou esse lado da existência dos ataques pessoais, da exploração da vida pessoal, dos ataques por parte das pessoas que o senhor denúncia, o que fez com que o senhor se emocionasse durante a sua exposição. Em qual das investigações resultou nesse tipo de pressão, incluindo ameaças?

Rômulo Cordão: No final das contas todas elas têm um tipo de pressão, incluindo o de advogados mal caráter, que criam factoides, que lhe representam e você tem que estar toda hora indo na corregedoria. É uma forma de minar o trabalho e vários promotores passam por isso. Mas o caso em específico [que causou a emoção] foi quando de uma ameaça de morte em si, detectada através de interceptação telefônica, onde foi conversado sobre isso, em dar cabo à minha vida. A maior dificuldade mesmo foi o afastamento da família.

Aqui o promotor conta que durante esse período a família com os filhos foram embora para Campina Grande, na Paraíba, seu estado de origem, e assim chegou a passar três anos distante dos seus, os visitando quando podia.

“Porque pela situação que ficou, depois de tanto trabalho, tanta operação, o tanto de inimizade que você acaba fazendo por conta disso é enorme. As pessoas não entendem o trabalho. Então não tinha como a minha família estar lá, naquilo", relembrou.

OITO ANOS COM UM SEGURANÇA: “ELE É QUE ERA A MINHA FAMÍLIA”

O promotor falou ainda, na entrevista, que durante oito anos que atuou no interior do estado viveu acompanhado de segurança. “Meu segurança era só um policial com uma arma na cintura. Então ele é que era minha família”, falou.

Era Paulo César, hoje cabo da Polícia Militar no sul do Piauí, o cabo Ribeiro. “Foi uma pessoa muito importante nessa história. Ele foi meu segurança por 8 anos. Foi uma pessoa que compartilhou da minha vida íntima. Viu minhas filhas nascerem. Dormia na minha casa. E quando minha família foi embora, ele foi a única pessoa que ficou comigo”, relatou.

180: o senhor falou que teve que se afastar dois meses da sua profissão por conta das ameaças de morte no sul do estado.

Rômulo Cordão: É. Existia essa possibilidade concreta de isso acontecer (o assassinato), e o procurador da República Marco Aurélio Adão, à época, liberou o afastamento. Eu tirei dois meses de férias mesmo no período eleitoral por conta disso, ainda que nesse período promotor de Justiça não possa se afastar. Isso foi durante a Operação Mercadores.


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