21/01/2018 às 12h36min - Atualizada em 21/01/2018 às 12h36min

Fragmentos de uma lembrança

Por Gabriela Aguiar

Portal Corrente

Tilintava,

Em um cântico sereno de vozes ao luar. Ouvia espasmos angustiantes de sussurros no ar, sua mente desconexa projetava imagens disformes. Criava seres inexistentes e desvendava mistérios encobertos de uma gama de riquezas peculiares. Estava sozinha, no momento em que o vento cobria-lhe o rosto com seus cabelos sedosos cheirando a um xampu floral.

Era um tanto quanto surreal, mas suas reflexões sempre foram assim. Desde menina via e sentia o que ninguém conseguia captar. Lia expressões e olhares com uma facilidade absurda. Alguns chamavam de sensibilidade, outros designavam dom. E então uma poeira turva subiu, bloqueando seu tempo.

Vivia em outras Eras, já havia sido duquesa e tornado-se princesa, porém abandou tudo num ímpeto que denominavam de paixão. E para trás ficaram ouro, jóias, família, amigos e uma vida miserável de conformidade. Seria uma experiência turbulenta e ela já havia acatado a idéia como uma ordem, inteirava-se de tudo com um sabor de felicidade.

Na sua fuga descobriu-se corajosa. Enfrentou obstáculos que seriam impossíveis e usando apenas sua criatividade. Um sorriso surgiu-lhe no rosto ao resgatar essas lembranças. Apesar de ter sido um período exaustivo o valor de tudo aquilo somava um valor gigantesco, multiplicava-se a euforia e a satisfação. Permaneceu por um momento inerte aos seus sentimentos, permitira-se naquele instante reviver tudo na sua memória.

Sua concentração fora quebrada por algum ruído qualquer e com ele vieram as lembranças do final dessa história. Abriu os olhos e pôde se ver no escuro da sua varanda, trancada como uma criminosa das mais diversas falcatruas. Nem ameaçou chorar, não existiam mais lágrimas para isto. Seu parceiro havia sido capturado, mas ela sabia que ele escaparia, ele sempre o fazia. Quando o perdeu de vista chegou a pensar que havia lhe deixado, só quando foi obrigada a retornar ao seu antigo lar soube o que acontecera.

Entretanto não se viram mais, ele fugira para sobreviver e ela aceitara o casamento imposto para o mesmo. Seria infeliz, disso já soubera no momento em que ele desaparecera, mas esperaria pacientemente porque num futuro bem longe se reencontrariam e lá teriam oportunidade para serem felizes de novo.

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