28/04/2015 às 16h23min - Atualizada em 28/04/2015 às 16h23min

Brasileiro condenado por tráfico é executado na Indonésia

Fuzilamento de Rodrigo Gularte, 42 anos, ocorreu na tarde desta terça-feira em uma prisão de Nusakambangan, no centro de Java

Zero Hora

O brasileiro Rodrigo Gularte, 42 anos, condenado à morte por tráfico de drogas na Indonésia, foi executado na tarde desta terça-feira. A informação foi confirmada pelo encarregado de Negócios da Embaixada do Brasil em Jacarta, Leonaro Carvalho Monteiro.

Além do brasileiro, foram executados, pelo mesmo motivo, dois australianos, quatro nigerianos e um indonésio. Única mulher, uma filipina foi perdoada, pois a pessoa que a teria recrutado para fazer o transporte das drogas se apresentou à Justiça a tempo.

Cerca de 300 pessoas, de jornalistas indonésios e estrangeiros a curiosos locais, estavam diante do porto de Wijayapura, que dá acesso à ilha de Nusakambangan. Longe do local de execuções, era o mais próximo podiam chegar.

A prima de Gularte Angelita Muxfeldt e Monteiro estavam na ilha no momento da execução. Eles haviam chegado ao local pouco mais de seis horas antes. Os dois, assim como outros diplomatas e familiares, foram mantidos a cerca de um quilômetro do local de fuzilamento, em uma área de onde é possível, no máximo, ouvir o barulho dos disparos, sem ver a cena.

Monteiro, assim que o fuzilamento acabou, foi o responsável por reconhecer o corpo de Gularte. O brasileiro pediu à família para ser enterrado no Brasil. Até esta segunda-feira, a ideia era cremá-lo na Indonésia e levar as cinzas para Curitiba (PR), onde o brasileiro nasceu. Dada a burocracia, o envio do corpo pode levar algumas semanas.


Prima de Gularte foi ao país para se despedir de seu filho
Foto: Romeo Gacad / AFP

A União Europeia, a Austrália e a França pediram à Indonésia, nesta terça-feira, que não prossiga com a execução de oito estrangeiros condenados à morte, algumas horas antes de encararem o pelotão de fuzilamento. O Brasil criticou a Indonésia por executar estrangeiros.

Os condenados receberam a notificação da execução no sábado, com um pré-aviso de pelo menos 72 horas. Os fuzilamentos acontecem habitualmente pouco depois da meia-noite local. A imprensa australiana publicou fotografias das cruzes destinadas aos caixões dos condenados, com data de 29.04.2015.

Segundo brasileiro executado

Gularte foi o segundo brasileiro na história a ter recebido a pena capital em tempos de paz. Há pouco mais de três meses, Marco Archer Cardoso Moreira, 53 anos, foi executado também por ter sido condenado em 2004 por tráfico de drogas.

Em 31 de julho de 2004, Gularte e mais dois amigos foram flagrados com seis quilos de cocaína escondidos em pranchas de surfe no aeroporto de Jacarta. O brasileiro liberou os dois colegas dizendo que a droga era toda dele.

Menos de um mês antes, Marco Archer havia sido condenado à morte por tentar entrar no aeroporto de Jacarta com 13,4 quilos de cocaína. Ele havia sido flagrado com a droga em 2 de agosto de 2003, escapou no aeroporto e foi recapturado duas semanas depois.

Protocolo de execução

Como manda o protocolo na Indonésia, conforme a Folha de S. Paulo, Gularte ficou preso a uma estaca com as mãos amarradas para trás. Ainda não se sabe se escolheu ficar em pé, ajoelhado ou sentado ou, ainda, se pediu para não ser vendado. Ele vestia uma camiseta branca com um X preto na altura do peito, para facilitar a mira dos atiradores — são 12 em cada pelotão de fuzilamento.

O padre Charlie Burrows esteve com Gularte minutos antes da execução, a pedido da família e do próprio condenado. Depois, os atiradores recebem de um oficial do pelotão uma ordem — por meio de um sinal de apito — para preparar seus fuzis.

O comandante do pelotão então levanta uma espada, o que significa a determinação para que o pelotão mire no peito do condenado. Quando ele abaixa a espada, os atiradores disparam.

Apenas três das armas são carregadas com balas de verdade, e o restante são projéteis de festim, de modo que ninguém saiba quem deu o tiro fatal. É exigido um pelotão de 12 atiradores para cada condenado, o que representa 108 pessoas apenas a mirar nos prisioneiros.

No campo aberto onde as execuções acontecem há também médicos, religiosos e policiais. Ao médico cabe constatar a morte. Uma vez que isso acontece, o corpo é limpo e nele é colocada uma roupa, provavelmente um terno, e então posto em um caixão branco dentro de uma ambulância.

Dor profunda


Familiares dos dois condenados australianos, Myuran Sukumaran, de 34 anos, e Andrew Chan, 31, não esconderam a emoção ao chegar à cidade portuária de Cilacap, que faz a ligação com a ilha daquela que é conhecida como a "prisão da morte". 

Chan se casou na segunda-feira com a namorada indonésia, durante uma cerimônia com parentes e amigos no complexo penitenciário, seu último desejo.

A família da condenada filipina Mary Jane Veloso também está em Cilacap para despedir-se da condenada, de 30 anos, que tem dois filhos e afirma que viajou para a Indonésia para trabalhar como empregada doméstica, mas que foi enganada por uma rede de narcotraficantes.

 

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