22/07/2015 às 18h46min - Atualizada em 22/07/2015 às 18h46min

Margarete assume o Governo do Piauí

Por conta da viagem do governador aos EUA, vice assume comando do Executivo e entra para a história como a primeira mulher a governar o Piauí.

CCOM

Nos próximos dias, o Piauí terá pela primeira vez uma mulher à frente do  Governo do Estado, em virtude da Missão Oficial do governador Wellington Dias aos Estados Unidos. A assinatura do termo de transmissão de cargo para a vice-governadora Margarete Coelho foi realizada nesta quarta-feira (22), no Palácio de Karnak.

Margarete Coelho ficará no comando do Executivo Estadual durante a viagem do governador a Washington (EUA) para tratar da liberação de recursos para investimentos em educação, saúde e segurança.

Em seu perfil no Facebook, a governadora interina fez uma publicação, falando sobre o momento histórico. Leia na íntegra:

 

"Sou a primeira mulher a assumir o Governo do Estado do Piauí, ainda que, interinamente. Encontrar-me, aqui, hoje, nesse espaço de decisão que desde sempre foi ocupado por homens, me coloca diante da dimensão e da responsabilidade de administrar um Estado com tantos desafios. Mas sinto uma enorme alegria em participar como testemunha e protagonista desse importante momento de avanço das conquistas das mulheres do Piauí na luta pela igualdade de direitos e de oportunidades. 

Sei que não chego aqui sozinha, que esse momento não é só meu, que este caminho foi corajosamente aberto, no passado não tão distante, por mulheres pioneiras como Josefina Costa, a primeira deputada estadual, Mirían Portella, primeira deputada federal e signatária da Constituição de 1988, Francisca Trindade que teve uma vida breve, mas deixou um exemplo de luta enorme em favor dos movimentos populares, dando voz e vez à periferia. Mulheres que em épocas muito menos favoráveis à expansão da atuação feminina, romperam o ciclo que as fechava no universo subalterno, se candidataram, se elegeram e fizeram suas vozes ressoarem nos lugares de tomada de decisão historicamente masculinizados. 

Relembro aqui outras desbravadoras que frente a outras batalhas expandiram o campo de atuação das mulheres, como, por exemplo, a maestrina, Clóris Oliveira, primeira piauiense a reger uma banda de música composta somente por mulheres, na época do regime autoritário, quando todas as vozes dissonantes eram silenciadas, inclusive, a das mulheres. Recordo a compositora Firmina Sobreira, que gravou seu nome em nossa história por meio da bela melodia que enriquece os versos de Da Costa e Silva, no mais belos dos hinos, o do Piauí. Preciso, recordar, ainda, Niéde Guidon que mesmo não sendo natural do Piauí, à duras penas construiu uma das obras mais marcantes e de grande orgulho de nosso Estado, o Parque Nacional da Serra da Capivara.

Falo de Amélia Bevilaqua, primeira mulher a concorrer à Academia Brasileira de Letras; Esperança Garcia, escrava que se rebelou contra o tratamento dado pelos senhores; Jovita Feitosa, a voluntária que saiu dos sertões do Piauí para alistar-se na guerra do Paraguai, Elvira Raulino, que abriu as redações para as mulheres; Sara Meneses, com seu ouro olímpico. Destaco as delegadas Eugênia Villa e Vilma Alves, defensoras dos direitos humanos, de grupos socialmente marginalizados, que lutam incansavelmente pelo respeito à humanidade essencial de quem a perdeu, ajudando-os a conquistar o direito a ter direitos.

Eu acredito que, enquanto houver mulheres, assim, iluminadas, comprometidas, corajosas, preocupadas, o bom contágio seguirá pouco a pouco empurrando para frente tudo que vale a pena de ser legitimado. Nós, mulheres piauienses, estamos aprendendo que é mais importante ser solidária e democrática, ser lutadora que ser machista, patriarcalista, preconceituosa ou acomodada. 

Quero louvar nesse momento, também, as mulheres guerreiras cotidianas, heroínas de todas as horas que invisível e silenciosamente ajudam a tecer a grande obra de fortalecimento de nosso Estado, como professoras, médicas, donas de casa, condutoras de ônibus, vendedoras, secretárias, advogadas, cantoras, atrizes que, desafiando a ordem do patriarcado e seus sedimentados valores morais, a lhes dizer de modo nada sutil sobre os lugares de poder: aqui não é lugar de mulher. E elas fazendo-se de surdas a esse imperativo, alçaram sua voz e disseram que sim: política é lugar de mulher, assim como o são os espaços domésticos, os espaços públicos, o mundo dos negócios, dos esportes, o universo da assistência social e cuidado de crianças e idosos, as academias da ciência, as forças armadas enfim, todos os lugares, são lugares de mulheres. 

E eu estou aqui para reafirmar que sim, nós podemos. E mais que isto, nós, assim, como os homens, devemos estar em todos as esferas de decisão da sociedade.
Esse é um compromisso que temos que ter com as desbravadores, de todas as épocas, dos espaços femininos no Piauí, mas principalmente, com as jovens que no frescor da juventude e na docilidade da infância se preparam para ser as mulheres do amanhã, que levarão à frente este ideal de uma sociedade onde homens tenham garantidos seus direitos e nada mais e as mulheres tenham assegurados os seus direitos e nada menos!

Digo que sim, é possível chegar aqui, mas não sem muito esforço, não sem muita luta, ética e honestidade. Não sem muita coragem, não sem muita verdade. Pois, as exigências e cobranças às mulheres estão sempre no superlativo. Temos que ser sempre mais. Como diz a poetisa Adélia Prado, provocando o poeta Carlos Drummond de Andrade quando ele disse que ao nascer um anjo lhe profetizou a ser cocho na vida, ao que ela respondeu: “ser cocho na vida é coisa de homem”. Mulher é desdobrável e eu sou. Nós somos!

Daí que falo hoje da necessidade de empoderar as mulheres e não de dar a elas graciosamente o poder, que antes pertencia a seus esposos ou pais. Falo em lhes dar – em nos dar- mais oportunidades, mais recursos, mais educação. Falo em impulsiona-las para que cheguem a mais postos de decisão nas universidades, nas fábricas, nas empresas, nos negócios, na ciência e na política. Ou que fiquem em casa cuidando dos filhos, se assim for o desejo delas e não uma imposição.

Em poucas palavras: trata-se de reconhecer as mulheres como cidadãs completas, com cérebro e útero, com pés e mãos, com capacidade para modificar o destino do Piauí e com a responsabilidade de reinventá-lo. Não me cabe dúvidas, de que uma sociedade democrática só está completa, se completos e iguais forem os direitos e espaços dedicados a homens e mulheres.

Sou filha do Sertão do Piauí, não me custa repetir. E aprendi desde o meu mil avó que na vida é melhor ser alegre que ser triste. Carrego no sangue das veias uma boa dosagem da força dos paredões da Serra da Capivara, que contornam a cidade onde eu nasci. A coragem e a dignidade me vieram das lições diárias que recebi da minha mãe. 

Conheço o meu Estado desde suas reentrâncas naturais, aos mais e menos populosos espaços urbanos. Já estive em cada ponto de Luis Correia a Corrente, de Pio IX a Ribeiro Gonçalves, andei pelas auto pistas de asfalto, estradas vicinais, os carreiros, os estreitos, os atalhos. Conheço seus potenciais, suas riquezas, seu patrimônio material e imaterial, bem como suas fragilidades e suas necessidades, suas carências e suas limitações.

Do povo do Piauí, conheço cada sotaque, cada jeito de ser, a cultura, os padroeiros e as vocações. 
Sei o quanto ainda se tem que enfrentar para aplacar os índices da violência que atordoam nosso cotidiano; quanto se precisa investir para atrair empreendimentos e oferecer mais empregos, esperanças e oportunidades aos jovens que se preparam para o mundo do trabalho; que precisamos avançar no desenvolvimento sem, contudo, comprometer os nossos recursos naturais, nosso grande tesouro. Sei o quanto precisamos nos esforçar para colocar o nosso sistema público de saúde e de educação no nível em que o nosso povo merece. 

E reconheço, o momento político e econômico de Brasil é delicado, mas entendo que é com serenidade e audácia que se enfrenta os tempos difíceis e não com desânimo ou desespero. Parafraseando o grande poeta e compositor Paulinho da Viola: em tempos difíceis, façamos “como o velho marinheiro, que durante o nevoeiro leva o barco devagar”, ao que eu acrescento, devagar e com firmeza.

Sei, e como sei, o reflexo da crise na vida, na casa e na mesa de cada trabalhador, que precisa manter seu emprego. De cada empresário que precisa se virar para não ter que demitir em momentos de recessão econômica. Conheço o drama dos pequenos e médios agricultores que precisam de alternativas para manter suas produções quando o inverno lhes trai e a chuva não vem.

O que fazer diante de uma realidade tão dura e desafiadora? Acomodar-se no discurso paralizante do “não podemos”, é certo que não! Prefiro acreditar na força mobilizadora do diálogo franco entre sociedade e governo, e daí encontrar as possibilidades e alternativas que nos coloquem no caminho do crescimento, da alegria e da vontade de fazer desse Estado um lugar bom para viver, criar nossos filhos e realizar nossos sonhos. 

E parte dessa obra começa com a valorizaçäo e empoderamento das mulheres desse Estado. Porque bons governos se fazem à base de boas cidadãs. Eu creio que as mulheres podem conseguir coisas extraordinárias, especialmente, aquelas que vão além de seguir a fila em silêncio e andam ao ritmo do seu próprio tambor.

O crescimento desse Estado será resultado do trabalho de todos os piauienses e não somente da classe política. Bons governantes se constroem à base de bons cidadãos e cidadãs, já se disse. Não tem salvador e nem salvadora da pátria. O que engrandece um Estado é ter um povo com compromissos compartilhados, onde a fé de alguns se converta na convicção de muitos; onde a crítica fácil ceda o lugar para a participação transformadora; onde a crença na mudança se transforme em ações cotidianas".

Pois que, o Piauí não é o Estado dos homens ou das mulheres; dos deputados, dos governadores ou dos juristas, dos burocratas, dos líderes sindicais. Este é o Estado dos piauienses. O nosso Estado. Em 2015 e sempre.


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