28/07/2016 às 00h03min - Atualizada em 28/07/2016 às 00h03min

Pesquisadores continuam estudos sobre os vestígios arqueológicos em Corrente

Ocupação humana é estimada entre quatro e seis mil anos

Viviane Setragni
Portal Corrente
Extração de vestígios arqueológicos no Sítio Araçá. (Foto: Gustavo Vilhena)

Pesquisadores da Universidade Federal do Piauí (UFPI), do Museu Nacional - UFRJ e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte  (UFRN), Centro de Ensino da Região Seridó, estiveram em Corrente no início do mês de julho, na região do Araçá, zona rural do município com o objetivo de dar continuidade a estudos arqueológicos iniciados no ano de 2014. Na época, a partir da descoberta do fóssil de uma preguiça gigante, amostras arqueológicas foram igualmente descobertas no local e, embora não haja ainda nenhuma relação entre o fóssil e os vestígios arqueológicos encontrados, as descobertas são muito significativas e mereceram grande atenção por parte dos pesquisadores, que deram continuidade aos estudos.


Vestígios arqueológicos (Foto: Gustavo Vilhena)

O arqueólogo Lucas Silva de Oliveira, mestrando na mesma área pela UFPI, fala sobre o início dos estudos. “A partir dos estudos palenteológicos que se se iniciaram em 2014, iniciamos os estudos arqueológicos na região. Foram feitos alguns diagnósticos nos anos seguintes, onde  identificamos inúmeros artefatos confeccionados em pedra. Na primeira campanha de escavação, em 2015, foi feita uma coleta de superfície de pelo menos duas mil peças, que estão sob análise no laboratório de arqueologia da UFPI. A partir dessas amostras iniciamos estudos mais aprofundados ”.

Oliveira coloca que a sua pesquisa estuda a tecnologia que foi aplicada para a confecção dos artefatos, o que possibilita identificar se houve mais de uma ocupação humana no local. “Aqui neste local, em especial, nós identificamos que o material arqueológico é diferente dos encontrados nos outros sítios ao longo do rio Gurgueia, então se fosse para fazer uma análise da tecnologia de produção artefatual, a do sítio Araçá se aproxima bastante da tecnologia de produção dos sítios arqueológicos do Brasil Central e da Bahia”.


                                                                                                                                (Foto: Gustavo Vilhena)
 

Já a arqueóloga Keyla Frazão, mestrando em Geociências pelo Museu Nacional-UFRJ, estuda a geologia do local para compreender o processo de formação do registro arqueológico e as camadas de formação e em que camada geológica ocorre o material arqueológico pra tentar estabelecer uma relação cronológica do material. “O que nós estamos fazendo é basicamente a descrição geológica do local, através de perfis e sessões estratigráficas, pra tentar entender os processos geológicos que ocorreram nesse ambiente e a partir disso tentar entender a formação do depósito arqueológico”, explica a pesquisadora.

Frazão coloca ainda que sua pesquisa contempla outras áreas da bacia hidrográfica do Rio Gurguéia e que já foram feitos estudos na região de Bom Jesus, comparando as camadas geológicas. “Este projeto está sendo desenvolvido considerando a linha de raciocínio da Geoarqueologia, que se caracteriza por utilizar conceitos e técnicas das Geociências na pesquisa arqueológica. O Projeto contempla sítios arqueológicos líticos localizados ao longo da Bacia Hidrográfica do Rio Gurguéia, onde se destaca o sítio Araçá, município de Corrente”.


                                                                                                                                                 Foto: Viviane Setragni
 

A pesquisa está sendo desenvolvida sob orientação do Geólogo Professor Dr. Renato Ramos (Museu Nacional - UFRJ) e Co-orientação do Arqueólogo Professor Dr. Abrahão Sanderson (Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Centro de Ensino da Região Seridó).

O exaustivo trabalho dos pesquisadores é realizado de sol a sol, durante todo o dia, em busca do menor vestígio que os permita realizar os exames de carbono 14, como carvão ou outro substrato, possibilitando a datação da camada analisada. Até o momento estima-se que a ocupação humana encontrada possa ter ocorrido entre quatro e seis mil anos, o que será determinado apenas após a análise em laboratório.

Quanto à área estudada, o sítio Araçá em especial, os pesquisadores acreditam que era uma grande “oficina”, onde trabalhadores escolheram o local devido à sua localização, às margens do rio, e pela natureza das pedras encontradas no local. “Todo esse riacho, que hoje é chamado de Riacho Grande, certamente tinha entre 6 e 8 metros acima do leito seco que hoje conhecemos, tendo toda essa vegetação outro tipo de constituição, talvez um cerrado mais verde”, explicou o geólogo Dr. Renato Ramos.

Quanto à preservação do local, a educação é apontada como uma das alternativas mais eficazes, já que não há como isolar a área para evitar a degradação. “Podemos realizar palestras aos estudantes, trazê-los até aqui, mostrar os vestígios, enfim, a conscientização é sem dúvida a forma mais eficaz de preservar esse patrimônio que pertence à cidade”, colocou o professor arqueólogo Ângelo Alves Correa, da UFPI.

* Colaboração para elaboração desta matéria: professores Gustavo Vilhena e Celso de Sousa Leite, do Instituto Federal do Piauí, Campus Corrente

                                                                                   


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