12/12/2016 às 09h09min - Atualizada em 12/12/2016 às 09h09min

Delator divulga relação de políticos de todo o país na folha da Odebrecht

Quatro parlamentares do Piauí foram beneficiados

Portal AZ

O ex-vice-presidente de relações institucionais da Odebrecht, Claudio Melo Filho, entregou à Procuradoria-Geral da República um anexo de 82 páginas nas quais ele diz que cerca de 40 políticos receberam R$ 68 milhões, pagos pelo setor que a empresa chama de Área de Operações Estruturadas, que logo ficou conhecido como “departamento de propinas”.

Claudio Melo Filho é natural de família piauiense. Seu avô, Clóvis Melo foi prefeito de Batalha e deputado estadual. O pai, Clóvis, advogado, também foi diretor da Odebrecht.

Entre as pessoas citadas por ele como tendo recebido dinheiro da construtora estão o chefe da Casa Civil Eliseu Padilha, o empresário Paulo Skaf, o então deputado Eduardo Cunha, o senador Romero Jucá e o ex-ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima. Ele cita ainda o senador piauiense Ciro Nogueira (PP) e os deputados federais Heráclito Fortes e Paes Landim.

No documento ele detalha os valores pagos e os codinomes usados para os políticos. 

De acordo com a delação os pagamentos realizados ao Senador Ciro Nogueira, apresentado com o codinome “Cerrado e Piqui”, Claudio Melo manteve diversos contatos com o Senador e, nas ocasiões narradas, recebeu pedidos de contribuição financeira.

“Recebi, no segundo semestre de 2010, pedido do parlamentar de contribuição financeira. Esse encontro provavelmente deve ter ocorrido em seu gabinete na Câmara dos Deputados. Sugeri internamente a inclusão do nome do parlamentar para receber o valor de R$ 300.000,00, o que foi aprovado. O pagamento foi operacionalizado pelo setor de operações estruturadas, com o uso dos codinomes “Helicóptero” e “Cerrado”. Fui o responsável por passar a senha para o senador.No segundo semestre de 2014, o Senador Ciro Nogueira solicitou a mim, em reunião provavelmente realizada em seu gabinete no Senado Federal, apoio para a campanha dos candidatos do PP. A solicitação foi por mim encaminhada a Benedicto Junior que aprovou o valor de R$ 1.300.000,00. Pedi a José Filho que procurasse o Senador e viabilizasse o pagamento. O valor foi pago em setembro de 2014 através da área de operações estruturadas, como consta na planilha”:

“Ressalto que, em meados de setembro de 2014, recebi uma orientação de Marcelo Odebrecht para comunicar ao Senador Ciro Nogueira que a companhia iria efetuar um pagamento, a princípio, para campanhas eleitorais do PP, partido presidido pelo mesmo, no valor de R$ 5 milhões. Fui à casa do Senador e passei a informação. No dia seguinte, acredito eu, Marcelo voltou a me ligar e pediu que eu transmitisse que a doação havia sido cancelada. Imediatamente liguei ao Senador para comunicá-lo. Pude perceber que parecia que o mesmo já havia sido avisado, pois recebeu com tranquilidade. Além disso, no ano de 2014, atendendo a pedido do parlamentar, recomendei internamente que a seguinte doação fosse realizada para a campanha de sua esposa, Iracema Portella, que concorria ao cargo de deputada federal. A doação foi efetuada no valor aproximada de R$ 500.000,00 (quinhentos Mil reais).”

Para confirmar as informações feitas na delação Cláudio Melo entregou entregou relatório de ligações telefônicas com datas que coincidem com o período programado para os pagamentos, além da lista de presença na votação do veto da MP 656 correspondente aos artigos que prorrogavam os contratos de energia para o Nordeste.

Na página 69 Melo cita a relação que Paes Landim, apelidado de “Decrépto” tinha com a Odebrecht, e que em certo momento chegou a convidar a empresa para participar da construção do aeroporto de Parnaíba.

“Deputado Paes Landim (PI) no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Antigo parlamentar do Piauí, que sempre nutriu simpatia pela Odebrecht. Fez discursos citando a empresa de forma elogiosa no plenário do Congresso, além de discursos específicos em homenagem à memória de meu pai, fato que me deixou sensibilizado e agradecido. Acredito que sua postura nutria esperança de receber algum pagamento a pretexto de campanha eleitoral, fato que ocorreu. Por outro lado, o pagamento também tinha como objetivo gerar crédito para eventual necessidade futura. Paes Landim possui longa relação com a empresa estando já em seu oitavo mandato como Deputado Federal. Sua relação com a empresa vem desde o final da década de 1980 e eu continuei esse relacionamento. Por várias vezes tentou publicar a história da Odebrecht em livros que são editados pelo Congresso. Chegou a solicitar encontros com o fundador da Odebrecht, mas que não se concretizou. Em algumas oportunidades discursou sobre a Engenharia Brasileira e sempre citava a Odebrecht como exemplo. Chegou a me procurar para que participássemos da construção do aeroporto em Parnaíba (Piauí), mas agradeci e disse a ele não era uma obra adequada para o tamanho de nossos projetos”;

Apelidado de “Boca Mole”, Heraclito Fortes aparece na delação como tendo recebido R$ 200.000. Citado como um político de influencia, havia a expectativa de que em uma eventual necessidade a empresa usasse seu apoio no Senado.

“Heráclito Fortes (PI) [“Boca Mole”], no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais). Político de influência, com histórico no PMDB de Ulysses Guimaraes, tendo sido Deputado Federal, Senador da República e ex-prefeito de Teresina/PI, tinha a expectativa de que em eventual necessidade, pudéssemos usar o seu apoio em demanda dentro do Senado Federal. Exemplo disso foi quando ele era Senador e que pedi a ele que acompanhasse as dificuldades que passávamos com a perda de um funcionário nosso no Iraque, pois ele era membro da Comissão de elações Exteriores. O trânsito deste parlamentar com o meio político agregou a mim uma melhor percepção dos “players” em Brasília. Considero Heráclito muito bem informado e tem leitura da história política que ajuda a qualquer RI que trabalha em Brasília. Em razão das 
fortes relações políticas que tem, Heráclito sempre ajudou na análise dos principais temas políticos. Esse acervo político e as suas fortes relações justificavam que fossem realizados pagamentos a pretexto de campanha.”

Veja aqui a delação


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