20/04/2017 às 18h43min - Atualizada em 20/04/2017 às 18h43min

Comunidade denuncia contaminação das nascentes e brejos com agrotóxico das grandes plantações em Corrente

Grandes latifundiários do cerrado pulverizam agrotóxico com aviões nas escarpas da serra

Viviane Setragni
Portal Corrente

O uso indevido de agrotóxico por parte de grandes empresas produtoras rurais do cerrado, em plantações localizadas próximo às escarpas de serras na localidade Morro Redondo, zona rural do município de Corrente, tem causado grandes transtornos à comunidade.

O vereador Gilmário Lustosa, morador da região, levou o assunto à tribuna durante reunião da Câmara de Vereadores do município de Corrente e declarou que a pulverização dos defensivos agrícolas sem nenhum critério próximo às escarpas das serras é comum nesta época do ano, colocando em risco as nascentes dos rios Paraim e Corrente, além de contaminar os brejos da localidade Morro Redondo, zona rural de Corrente, oferecendo riscos à população que mora no local.


Vereador Gilmário Lustosa
 

“Eu já tenho feito essa denúncia tem mais de ano, sempre nessa época volta essa situação. Fazendeiros e grandes latifundiários jogam agrotóxico com avião e o povo que tem propriedade rural próximo à serra é o mais afetado, pois contamina a água das nascentes e dos brejos, água que é usada para tudo. Tem vários casos de pessoas e até crianças que são afetadas com veneno e precisam de atendimento médico. A sensação que nós temos é que a SEMAR não olha para o sul do estado, especialmente para a Chapada das Mangabeiras, pois apesar das denúncias não vemos nenhuma fiscalização na região”, colocou o vereador em seu pronunciamento.

Gilmário Lustosa ressaltou que espera o apoio do deputado Ziza Carvalho, Secretário de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, para apurar as denúncias.


Coleta de amostras, feita em 2015 pela SUMAR
 

No ano de 2015, a Superintendência Municipal de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (SUMAR) de Corrente realizou uma vistoria na localidade, onde diversos depoimentos foram registrados sobre o efeito do agrotóxico na saúde da população e amostras de água e solo para análise em laboratório foram colhidas. Segundo o ex-superintendente de Meio Ambiente, o ambientalista Jesý Júnior, as amostras foram encaminhadas à Vigilância Sanitária mas os resultados nunca foram apresentados. “Acredito que elas nem mesmo tenham sido encaminhadas para análise”, comentou.

Na ocasião, um dos depoimentos chamou atenção. Uma moradora do local relatou que, em decorrência de forte chuva, a água que desceu da escarpa da serra invadiu a sua propriedade, como eventualmente acontece na época. Entretanto, ao entrar na água para salvar os animais domésticos e vigiar a propriedade, a agricultora sentiu um cheiro muito forte de produto químico. À noite,  teve uma reação alérgica, tendo inclusive dificuldade para respirar, além de forte coceira por todo o corpo.


Plantações localizadas próximo às escarpas de serra (imagem: gloogle maps/região:Corrente)
 

Ainda segundo a agricultora, a população local tem conhecimento da utilização de veneno nas plantações acima da serra, mas tem medo de denunciar por causa do poder econômico das grandes empresas – muitos dos agricultores trabalham nas plantações e têm medo de perder os empregos.

Há ainda relatos dos professores que trabalham na escola da comunidade, os quais afirmam que diversas crianças foram à escola com feridas por todo o corpo. “No posto de saúde ninguém sabe o que fazer, passam apenas pomada, mas enquanto a água fica contaminada nessa época específica do ano as crianças sofrem demais”, relata uma das servidoras da escola.

Durante essa semana, o vereador Gilmário Lustosa voltou a localidade da Prata, local de parte das nascentes,  e confirmou novamente o uso indiscriminado do veneno. “Dessa vez eu mesmo senti o cheiro forte e cheguei a passar mal, é uma situação emergente e as autoridades competentes precisam tomar uma atitude”, reforçou.


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