07/04/2018 às 09h08min - Atualizada em 07/04/2018 às 09h08min

Crianças intoxicadas em campanha de saúde são novamente hospitalizadas com graves reações em Corrente

Viviane Setragni
Portal Corrente

Oito crianças deram entrada nesta sexta-feira (6) no Hospital Regional João Pacheco Cavalcante, em Corrente, com novos sintomas de reação alérgica ao medicamento albendazol, ministrado durante a campanha nacional contra verminose, tracoma e hanseníase na Escola Municipal Justina Freitas de Souza na última quarta-feira (4). Os sintomas apresentados foram fortes dores de cabeça e pelo corpo, tonturas, desmaios e falta de ar.

No caso mais grave, uma das crianças foi encontrada pelo tio em casa tendo uma convulsão e chegou desmaiada no hospital, junto com a irmã, que também foi intoxicada durante a campanha. Tamires foi medicada imediatamente e logo reagiu ao tratamento, recuperando os sentidos em poucos minutos. Ela permaneceu internada junto com a irmã e mais dois colegas. Outro menino internado apresentou, além das fortes dores e falta de ar, o enrijecimento mãos.

Uma das professoras conta que permaneceu durante todo o dia no hospital, dando assistência às famílias que chegavam trazendo as crianças com as reações. “É uma situação muito complicada, pois a comunidade é muito distante da zona urbana e as famílias, em sua maioria, são muito humildes e não tem condições de estarem indo para a zona rural e voltando para a zona urbana. Cheguei a disponibilizar a minha casa aqui na cidade para eles ficarem e garantir que, se tiverem nova reação, estarem próximos ao hospital”, relatou.

Outra professora, que também estava na recepção do hospital auxiliando os pais, comentou que foi uma grande sorte que a campanha tenha iniciado no período da tarde. “À tarde temos apenas as crianças do Ensino Fundamental maior, uma média de 60 crianças com idade a partir de 12 anos. Se a campanha tivesse iniciado no período da manhã teríamos crianças a partir dos 5 anos de idade ingerindo a medicação e sabe-se lá qual teria sido a reação delas”, colocou.

Segundo a equipe de enfermagem do hospital, as crianças receberam o tratamento de acordo com os sintomas apresentados e somente foram liberadas após o seu completo restabelecimento. “Todas as crianças que estiveram em observação no hospital somente receberam alta quando foi constatado que não havia mais nenhum sintoma de reação alérgica. Mas muitas delas retornaram com novas reações,além de outras que ainda não haviam apresentado nenhum sintoma antes. As quatro crianças que deram entrada entre o final da tarde e início da noite de hoje permanecerão em observação até amanhã, mesmo com a melhora do quadro clínico, de acordo com a determinação do médico de plantão”, explicou o Assistente Social Paulo Henrique Dourado.

A mãe das duas meninas internadas, Rosileide Alves de Melo , estava em pânico na recepção do hospital. “Elas saíram do hospital hoje e quando eu estava no meu trabalho fui informada que elas ficaram ruins em casa de novo. A gente fica desesperada porque não sabe o que está acontecendo”, falou, aos prantos. Dona Rosileide disse ainda que não concordava com a forma como o remédio foi ministrado às crianças. “A gente não sabia de nada, a escola deveria ter feito uma reunião com os pais explicando o que ia ser feito e pedindo autorização. Agora tem essa situação absurda, com os nossos filhos muito mal, e a gente nem sabia que eles iam tomar esse remédio”, desabafou.

Sobre o ocorrido, o Ministério Público já ouviu o depoimento de 20 pais na manhã dessa sexta-feira (7) e aguarda informações oficiais da Secretaria Municipal de Saúde. “Em posse destes documentos será instaurado um Procedimento Administrativo na próxima segunda-feira (7), quando ouviremos formalmente todas as testemunhas envolvidas para averiguar o que realmente aconteceu, se o medicamento foi armazenado adequadamente, se o remédio não estava vencido e ainda se é indicada a aplicação da medicação indistintamente, sem a realização de exames e sem prescrição médica. Sabemos que a Sociedade Brasileira de Pediatria é contra essa conduta, embora o Ministério da Saúde realize essas campanhas periodicamente”, explicou a promotora de Justiça, Gilvânia Alves Viana.

A promotora ressaltou que a Vigilância Estadual já foi notificada sobre a ocorrência e que o MP também irá notificar a Anvisa e ao Conselho Regional de Enfermagem (Coren). “Precisamos avaliar também se a conduta dos profissionais que aplicaram a medicação foi correta. A partir de todas essas informações será possível estabelecer um parâmetro para as futuras campanhas que vierem a ser realizadas na região”, colocou.

A diretora do Hospital Regional de Corrente, Lindaura Perpetua Cavalcanti, confirmou ao Portal Corrente que a Diretoria de Vigilância Sanitária (Divisa) do estado estará em Corrente na segunda-feira, assim como uma equipe da Secretaria de Estado da Saúde (SESAPI), que chegará ao município já no domingo (8) para analisar o medicamento e a água ingeridos na escola. 

Desde que as crianças ingeriram a medicação, na tarde de quarta-feira (4), mais de 40 já deram entrada no Hospital Regional João Pacheco Cavalcante com fortes reações alérgicas, tendo muitas delas retornado com a volta dos sintomas.


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