29/02/2020 às 21h05min - Atualizada em 29/02/2020 às 21h05min

Terceiro rompimento de bacia de contenção da Usina Solar São Gonçalo causa novos danos ambientais em brejos e nascentes

Prefeitura já havia protocolado duas denúncias na SEMAR e MP, em abril de 2019 e início de fevereiro de 2020.

Viviane Setragni
Portal Corrente

A população da zona rural do pequeno município de São Gonçalo do Gurgueia, localizado à 800km de Teresina, foi surpreendida neste sábado com novo rompimento de uma bacia de contenção de águas de chuva das obras do Parque Solar São Gonçalo, um empreendimento da multinacional Enel Green Power.

Toneladas de água e sedimentos desceram a encosta da serra onde o parque solar está sendo construído, causando a destruição da flora e fauna local. O pequeno Riacho dos Macacos, em poucos minutos, multiplicou seu volume, transbordando em vários locais, passando por cima de pontes e causando prejuízos às comunidades.

Vale destacar que grande parte da encosta da serra que faz o perímetro do canteiro de obras é composto por vegetação nativa, que são o ponto de sustentação da comunidade local.



No dia 5 de fevereiro, o rompimento de outro ponto de contenção já havia sido registrado, causando igualmente a destruição da vegetação e contaminando brejos, nascentes e deixando as águas do Riacho dos Macados e do Buritizinho turvas e completamente impróprias para uso. Lar de centenas de moradores, a localidade viu-se sem a sua principal fonte de água para consumo, local de banho e irrigação de pequenas propriedades rurais. Há relatos, inclusive, de reações alérgicas de moradores que tiveram contato com a água dos rios, chamando atenção para a grave suspeita de contaminação dos mananciais.

No dia 13 de fevereiro, o prefeito do município, Paulo Lustosa Nogueira, esteve pessoalmente na Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Piauí (SEMAR), em Teresina, onde reuniu-se com o superintendente estadual de Meio Ambiente, Carlos Moutra Fé, para protocolar a denúncia e solicitar providências em relação ao desastre ambiental iminente. "Estamos com medo do que possa estar por vir", chegou a comentar o prefeito. Ele lembrou que no mês de abril de 2019 havia protocolado a primeira denúncia no órgão, assim como no Ministério Público Estadual, pois o rompimento de uma bacia já havia sido registrado no período invernoso, destruindo brejos e deixando a água do rio imprópria para consumo.

Neste sábado, com o novo desastre, o secretário municipal de Meio Ambiente, Edilberto Gonçalves Nobre, lamentou a omissão dos órgãos responsáveis. "Desde o ano passado, quando tivemos os primeiros problemas com relação às enxurradas vindas da obra do Parque Solar São Gonçalo, notificamos a empresa, encaminhamos a mesma para a SEMAR, Ministério Público Estadual e Câmara de Vereadores, mas não tivemos êxito. Estamos com vários brejos destruídos, moradores ribeirinhos com prejuízos de plantações e animais, e o Rio Gurguéia sendo soterrado. Não sabemos mais a quem recorrer", declarou o gestor.

Durante a semana passada, o município recebeu a visita de fiscais da SEMAR. A equipe técnica esteve no local onde foi registrado o rompimento da bacia no início do mês, acompanhado pelo secretário municipal de Meio Ambiente.

Nesta sexta-feira (28), a secretária de Estado do Meio Ambiente, Sádia Castro, confirmou durante entrevista que o impacto registrado no local foi muito grande e que a empresa responsável pelo empreendimento sera responsabilizada pelo dano.

A Enel enviou ao Portal Corrente, no dia 14 de fevereiro, uma nota de esclarecimento, confirmando que estaria reforçando a estrutura de contenção no entorno do parque solar e que daria assistência à comunidade. 

Entretanto, pesquisas demonstram que o frágil ecossistema de brejos e nascentes do cerrado podem levar décadas para se recompor, se houver as condições necessárias. Com os últimos acontecimentos, a população começa a questionar qual o real preço a pagar pela obra. "Tivemos grandes investimentos no nosso município com os impostos arrecadados em decorrência do empreendimento, mas não podemos aceitar que a nossa maior riqueza, que são os nossos rios,  sejam destruídos por causa dele", frisa Edilberto Gonçalves.





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