07/05/2020 às 13h51min - Atualizada em 07/05/2020 às 13h51min

Isolamento social é essencial para que Estado amplie sistema de atendimento antes do pico da Covid-19

O auge no número de infectados no Piauí segundo cálculos matemáticos esta previsto para o mês de agosto.

Redação
População de Corrente na fila para atendimento bancário no dia 23 de abril

O Piauí registrou, nessa quarta-feira (6), mais de mil casos de pessoas infectadas pelo novo coronavírus. O dado divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi), em seu boletim que confirmou 1.051 casos da Covid-19, reforçou a importância da população cumprir o isolamento social.

Segundo orientação do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde (OMS), a redução de circulação de pessoas é a melhor forma, neste momento, de impedir o crescimento rápido de pessoas contaminadas e, consequentemente, um colapso no sistema de saúde.

No Piauí, a taxa de isolamento social tem caído nas últimas semanas, ficando em torno de 50%, considerada muito abaixo do mínimo aceitável de 70%. Isso significa que metade dos piauienses não estão ficando em casa, mas sim circulando nas ruas, muitas vezes em aglomerações. Isso aumenta muito as chances de contaminação pelo vírus Sars-Cov-2, altamente contagioso.

Com muitas pessoas adoecendo ao mesmo tempo e os casos mais graves precisando de leitos de UTI, muitos pacientes podem morrer por falta de atendimento. No Piauí, dos 189 leitos com UTI disponíveis para paciente com o vírus Sars-Cov-2, 43% estão ocupados com vítimas da Covid-19. Porém, dependendo da velocidade de novas contaminações, a capacidade do sistema de saúde pode ser alcançada rapidamente e, assim, podem faltar leitos.

 

Isso explica porque o Governo do Estado orienta a população a ficar em casa, se puder. Caso a taxa isolamento se mantenham no atual patamar, o pico da doença acontecerá em agosto, dando tempo para que o sistema de saúde do Estado se prepare, com a aquisição de mais leitos de UTI e também clínicos.

O diretor do Instituto de Doenças Tropicais Nathan Portela e integrante Comitê de Organização Emergencial (COE), José Noronha, explica que o Estado quer garantir que haja leitos para todos os que precisarem. “E isso só será possível se muitas pessoas não adoecerem ao mesmo tempo. Na Itália e na Espanha isso aconteceu e a quantidade de óbitos está sendo muito grande”, afirma o médico infectologista.

Pico da doença será em agosto

A Secretaria da Saúde está providenciando a aquisição de novos leitos de UTI, mas como há uma demanda muito grande em todo o mundo por respiradores mecânicos (fundamentais para os casos graves), não há como prever quando a rede estará pronta. Enquanto isso, o governo finaliza leitos clínicos, colocados no hospital de campanha que está sendo construído no Ginásio Verdão, em Teresina.

Para isso, o atraso do pico da doença é fundamental. Estudos indicam que o Piauí conseguiu atrasar esse pico que estava previsto para ocorrer em maio e agora a previsão é de agosto, o que é muito positivo. Significa mais tempo para o Estado se preparar com a aquisição de novos leitos, receber os respiradores, mais testes, mais equipamentos de proteção individual, entre outros.

Todo esse atraso se deve justamente às medidas de isolamento que foram implantadas e estão freando a rapidez de propagação da doença.

De acordo com o matemático e professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Jefferson Cruz, que analisou o nível de contaminação do novo coronavírus no estado e fez projeções de como se dará o avanço de novas infecções nos próximos meses, foi acertada a decisão das autoridades públicas da rede estadual e municipais de determinarem o fechamento de várias atividades econômicas antes dos primeiros casos de Covid-19, pois empurrou o pico da doença no estado, previsto para este mês de maio, para agosto.

Jefferson Cruz é um dos integrantes do Grupo de Trabalho de Saúde do Comitê Gestor de Crise (CGC) da UFPI, criado em março por conta da pandemia. Segundo o pesquisador, sem as medidas de isolamento, o Piauí teria alcançado cerca de 2 mil casos por volta do dia 20 de abril, ou seja, o dobro do que os 1 mil dessa quarta-feira (6). E atingiria entre 100 mil a 200 mil casos, com 600 a 700 óbitos. “Fizemos essa estimativa baseados no protocolo da Organização Mundial de Saúde, que estima a quantidade de pessoas que podem ser infectadas por um indivíduo contaminado”, explica o matemático.

Se o Piauí já tivesse chegado a esse total de infectados, o sistema de saúde estadual entraria em colapso, pois não haverá como atender todos ao mesmo tempo.

Ainda de acordo com as projeções, mantido o isolamento social da forma em que está, o Piauí deve registrar 20 mil casos em junho, cerca de 80% menor do que os 100 mil previstos sem o isolamento. Logo, o número de óbitos também será bem inferior.

PM fiscaliza cumprimento das medidas de isolamento

Para orientar a população sobre a necessidade de evitar a circulação nas ruas, a Polícia Militar do Piauí está realizando rondas constantes nos bairros, fiscalizando aglomerações e atividades econômicas não essenciais que estão funcionando apesar da proibição do Governo do Estado.

O major Gustavo Campelo, chefe do Centro de Operações da Polícia Militar (Copom), disse que a PM faz sua parte, mas a população deve ficar em casa, quem puder. “Esse trabalho de aumento do percentual de isolamento não depende exclusivamente da PM, pois não há a proibição de ir e vir no estado. Existe a determinação de fechamento de estabelecimentos não essenciais e proibição de aglomerações”, afirmou o militar.

Os dados do isolamento, contudo, são utilizados para melhor nortear as decisões estratégicas e abrandamento ou não dos decretos de isolamento. A Polícia Militar está também fazendo barreiras sanitárias nas divisas com estados vizinhos, em ação conjunta aos órgãos de saúde e vigilância sanitária, para garantir o cumprimento dos decretos em vigor.

O comandante-geral da Polícia Militar no Piauí, coronel Lindomar Castilho, explica como é realizado o monitoramento. “A pesquisa divulgada é baseada nos dados do site Inloco, que possui a base de dados (geolocalização) das pessoas de acordo com seus smartphone. Quando a pessoa se desloca daquele ponto onde ele passa mais tempo do seu dia, que é considerado pelo app como moradia, o movimento é entendido pelo app como uma violação à política de isolamento”, explica Castilho.

A agência In Loco possui uma tecnologia que monitora a localização de 60 milhões de aparelhos smartphones em todo o país, sem identificar pessoas, garantindo assim sua privacidade e anonimato. Tal inteligência é utilizada em todo o território nacional como uma ferramenta de vigilância e de suporte na coleta de dados que auxiliem as autoridades a guiar o isolamento social e conter o avanço da Covid-19. O aplicativo tem acesso ao ranqueamento de 204 municípios dos 224 piauienses.


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