13/05/2021 às 18h05min - Atualizada em 13/05/2021 às 18h05min

Ibaneis recebeu verbas do suposto 'orçamento secreto' do governo federal para DF, e repassou parte do dinheiro ao Piauí, diz jornal

G1
Uma reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo", publicada nesta quinta-feira (13), afirma que o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), se beneficiou do suposto "orçamento secreto" criado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que, segundo a publicação, foi usado para aumentar sua base de apoio no Congresso Nacional.
 
A publicação afirma que um documento do Ministério do Desenvolvimento Regional mostra que o governador pôde direcionar R$ 15 milhões da pasta para obras e compras de veículos e máquinas, e que uma parte desse dinheiro, destinado à aplicação no DF, foi repassado por ele ao Piauí, estado onde o governador cresceu.
 
Por meio de nota, a assessoria de Ibaneis disse que a verba foi indicada para pavimentação, escoamento e aquisição de carros, e para despesas administrativas e de fiscalização da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), em Brasília. O governador do DF também admitiu o envio de dinheiro de valores para prefeituras de cidades do Piauí. Porém, o valor não foi especificado.
 
"Todos os recursos destinados ao Distrito Federal foram devidamente aplicados. Nos demais casos, como não havia projetos, o governador destinou as verbas a algumas prefeituras do Piauí", diz assessoria de Ibaneis.
 

Repasses

O suposto "orçamento secreto" do governo federal foi revelado por reportagens do "O Estado de S. Paulo". Segundo o jornal, o presidente Jair Bolsonaro liberou a destinação de emendas para parlamentares aliados, com objetivo de ganhar apoio no Congresso Nacional, principalmente de membros do chamado "Centrão".
 
A indicação da verba foi feita pelas chamadas emendas do relator do orçamento. Ao contrário das emendas individuais, que seguem critérios bem específicos e que são divididas de forma equilibrada entre todos os parlamentares, as emendas de relator não seguem critérios usuais e beneficiam apenas alguns parlamentares, de acordo com acertos informais feitos entre eles, o relator e o governo federal.
 
Os recursos teriam sido destinados à Codevasf para a realização de obras e compra de máquinas nos redutos eleitorais dos congressistas. De acordo com a publicação, mais de R$ 3 bilhões foram destinados ao grupo beneficiado.
 
A reportagem afirma que Ibaneis foi beneficiado com os R$ 15 milhões em uma cota de julho do ano passado. Já o governador disse à TV Globo que "recebemos a nossa cota, que nos foi destinada pelo senador Eduardo Gomes (MDB-TO), que é do meu partido".
 
"Conseguimos incluir parte do Distrito Federal na área de cobertura da Codevasf, o que não existia antes, e com isso conseguimos aprovar projetos importantes, como é o caso do caminho das escolhas, galerias de águas na área rural e aquisição de máquinas', disse Ibaneis.
 
O senador Eduardo Gomes faz parte do "Centrão", e atualmente é o líder do governo federal no Congresso. À reportagem, o parlamentar afirmou que Ibaneis não recebeu nenhuma emenda secreta.
 
Segundo ele, o DF começou a contar com escritório e funcionamento da Codevasf, e os R$ 15 milhões foram endereçados para programas da estatal, a pedido de um relatório setorial.
 
Sobre os prefeitos do Piauí que receberam a verba, o governador do DF disse que "eles participaram de reunião na Codevasf, onde apresentaram seus projetos, e tiveram a anuência do órgão para recebimento dos recursos".
 

Ibaneis e o Piauí

Esta não é a primeira vez que a relação do governador do DF com o Piauí chama a atenção. No primeiro ano de mandato, Ibaneis Rocha dedicou parte de sua agenda para participar do "Encontro Piauí-Portugal", criado para incentivar investimentos entre os dois locais.

   
Em 2020, veio à tona uma doação de milhares de máscaras e luvas, no auge da pandemia de Covid-19, para a prefeitura de Corrente - cidade onde o governador cresceu no Piauí.
 
Esse caso foi parar na Justiça do DF, que já bloqueou um total de R$ 106 mil das contas de Ibaneis e outras três pessoas, para garantir o ressarcimento aos cofres públicos, caso a doação seja considerada irregular.
 

Outros beneficiados

Parlamentares e o subprocurador-geral do Ministério Público no Tribunal de Contas da União pediram a abertura de uma investigação sobre o suposto orçamento paralelo do governo federal.
 
Ao todo, as reportagens do jornal "O Estado de S. Paulo" apontam um conjunto de 101 ofícios que foram enviados por deputados e senadores ao Ministério do Desenvolvimento Regional, comandado por Rogério Marinho.
 
A TV Globo teve acesso aos ofícios que parlamentares aliados do Palácio do Planalto mandaram para a pasta, indicando exatamente para onde os repasses deveriam ser feitos.
 
Em um dos documentos, enviado para o presidente da Codevasf, ligada ao Ministério do Desenvolvimento Regional - o ex-presidente do Senado, Davi Alcolumbre (Democratas), indicou um total de R$ 71 milhões para compra de máquinas e obras - mais da metade desses recursos é para o estado do senador, o Amapá.
 
Em outro documento, o deputado Cláudio Cajado (Progressistas), também pede à Codevasf especial atenção para viabilizar a transferência da cota dele, e diz que foi autorizada pela Secretaria de Governo da Presidência, no valor de R$ 12 milhões.
 
Em outro documento, o deputado Vicentinho Júnior (PL-TO), vice-líder do bloco de centro da Câmara, diz que está sendo contemplado com R$ 600.290.

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