27/02/2017 às 11h23min - Atualizada em 27/02/2017 às 11h23min

BR-135, a “rodovia da morte”, por Zózimo Tavares

Por Zózimo Tavares, Portal Cidade Verde

O jornalista Zózimo Tavares repercutiu em sua coluna no portal Cidade Verde a tragédia ocorrida no último sábado, na BR 135, em Cristalândia do Piauí, o acidente que vitimou 4 pessoas da mesma família. O jornalista lembra que a referida BR já foi alvo de críticas e apelos do deputado federal Paes Landin, faz um breve relato das condições precárias da rodovia nos seus 500 km de perigo no sul do Piauí e denuncia o descaso das autoridades.

 

Confira:

Mais quatro pessoas, todas da mesma família, morreram em um novo acidente na BR-135, no Extremo-Sul do Piauí. As vítimas foram Clézio Sousa, sua esposa Thais Paes Landim, de 32 anos, e os filhos Tauan, 13 anos, e Iago, de 10 anos. O Siena prata em que viajavam, de placa OAT-0259, de Cristalina/GO, conduzido por Clezio Souza, colidiu de frente com um caminhão tanque e os dois carros pegaram fogo. Toda a família morreu carbonizada.

Os corpos carbonizados foram transportados para uma funerária em Corrente e as famílias das vítimas terão que aguardar o resultado do exame de DNA, no Instituto Médico Legal, em Teresina, por pelo menos 10 dias. Só depois disso haverá a liberação para o sepultamento. Os corpos ficaram totalmente irreconhecíveis e nenhum documento resistiu ao incêndio.

O acidente ocorreu no município de Cristalândia, próximo à divisa do Piauí com a Bahia, a 900 quilômetros de Teresina. A Polícia Rodoviária Federal confirmou que o acidente ocorreu às 20h30 de sábado. O Siena saía do povoado Pau D'arco, em Cristalândia, em direção a Corrente. O caminhão tanque de placa OZF 0017, da Bahia, era conduzido por R.F.S.O, 29 anos, e seguia de Corrente para Barreiras (BA). 

O local da colisão fica a apenas um quilômetro de Cristalândia. A família era natural de Corrente e residia há mais de 10 anos em Brasília. A placa do veículo foi reconhecida por familiares, que preocupados procuraram pela família na BR. A PRF divulga o resultado da perícia em 15 dias.

O deputado Paes Landim denuncia da tribuna da Câmara: no Piauí, BR-135 é um atentado (- Foto: Agência Câmara)

Estrada é um atentado

O deputado federal Paes Landim (PTB) denuncia com frequência, da tribuna da Câmara e através da imprensa, as precárias condições da BR-135. Em 29 de junho de 2015, por exemplo, o deputado fez mais um pronunciamento na Câmara para tratar da situação da estrada:

“Várias vezes, eu ocupei a tribuna desta Casa para denunciar os perigos da BR-135 exatamente no trecho de Eliseu Martins a Bom Jesus. Por exemplo, Sr. Presidente, em discurso neste plenário, no dia 5 de maio de 2014, já reclamava ao General Jorge Fraxe, honrado ex-Diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes — DNIT, que ele visitasse, como eu pedia, de carro, a BR-135. Esses diretores de órgãos rodoviários deveriam andar só de carro nas rodovias federais, em lugar de ficarem em seus gabinetes, administrando as rodovias brasileiras a partir de mapas. 

Nesse discurso, eu repetia que ao chegar em Barreiras, na Bahia, a estrada que sai daquela cidade, na direção da Rio-Bahia, é toda alargada, e a do Piauí, por outro lado, aquela bitola estreita, é uma humilhação! É outra realidade. 

Nesse sentido, me reportava nesse discurso, repito, em maio de 2014, que o General Fraxe tinha enviado para mim uma carta sobre projeto de alargamento da rodovia desde o trecho de Eliseu Martins à divisa Piauí-Bahia. Segundo ele, o órgão havia firmado contrato com a Strata Engenharia Ltda., de número 0297, em 2013, para a execução de projeto de engenharia para alargamento dos acostamentos do citado trecho.

Quanta incoerência! Que realidade é essa? O que houve com esse contrato? Vale destacar, Sr. Presidente, que não basta acostamento, é necessário alargar a rodovia. O trecho de Eliseu Martins é repleto de curvas perigosas e sem sinalização! Isso é um atentado! 

Eu já disse, certa feita, ao me referir à BR-135, que, se todos os cidadãos brasileiros fossem reclamar do Governo Federal os prejuízos causados por mortes e acidentes nas rodovias, os cofres federais estariam todos quebrados. Enfim, o Brasil precisar levar a sério as suas políticas públicas do setor rodoviário.”

BR-135, no Sul do Piauí: estreita e sem acostamento - 500 quilômetros de perigo

No fio da navalha

A BR-135 começa em São Luís e vai até Belo Horizonte. No Piauí, seu trecho vai do município de Guadalupe a Cristalândia, na Divisa com a Bahia,  no total de aproximadamente 500 quilômetros. O trecho piauiense é cada vez mais a estrada da morte. Uma ruela asfáltica, sem acostamento e com sinalização precária, onde trafegam gigantes (bitrens, rodotrens) da estrada, junto com caminhões, ônibus, camionetas, carros de passeios e motos.

O motorista que inicia o trajeto por esta rodovia na cidade de Eliseu Martins, em direção ao Extremo-Sul do Estado, sobe literalmente no fio de uma navalha que fere, corta e mata. É como se fosse um equilibrista percorrendo um fio nas artes circenses. De um lado, os motoristas e usuários dessa perigosa estrada, transitando em sua mão, são oprimidos pela ausência da área de escapamento e pela presença de abismos à beira da rodovia causadas pelo aumento da altura de suas margens devido a constantes recapeamentos.

Do outro lado, o motorista é desafiado a cruzar veículos cada vez mais pesados e largos, num tráfego constante resultante das demandas do agronegócio que prospera na região a passos largos. As carretas bitrens passam umas roçando nas outras. Os choques entre elas são frequentes, como frequentes também são os acidentes entre outros carros na estrada.

Muitas vidas humanas são ceifadas nessa guerra silenciosa chamada trânsito. São 55 mil mortes por ano no Brasil. Mais de 150 pessoas mortas por dia. Nem a violência urbana, hoje fora de controle, mata tanta gente em tão pouco tempo. A BR-135, no trecho piauiense, contribui a cada dia para o exponencial aumento dessa estatística fúnebre. Já se falou na construção de acostamento da estrada a partir de Eliseu Martins. Tudo não passou, porém, de promessa eleitoral.

Por muito menos, aqui perto de Teresina, há alguns anos, o desembargador Luiz Gonzaga Brandão de Carvalho ameaçou interditar a rodovia estadual entre os municípios de José de Freitas e Barras, que oferecia precárias condições de tráfego e perigos para os motoristas. A muito custo, o governo tratou de recuperá-la.

Não seria um despropósito se o Ministério Público Federal pedisse a interdição da BR-135, entre Eliseu Martins e Bom Jesus, em um dos sentidos, em um determinado turno do dia, até pelo menos a construção dos acostamentos.

Diante da inércia, da omissão, do descaso e da indiferença dos políticos, se qualquer um dos diligentes procuradores da República que atuam no Piauí rodasse naquela estrada uma única vez, em qualquer horário, ele seguramente voltaria para Teresina convencido dessa necessidade. Ou da adoção de outra providência mais enérgica.


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