Entre 2003 a 2013, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), 90,9% dos casos de trabalho escravo na Bahia foram registrados no Extremo-Oeste. “A situação do trabalho no Oeste é mais endêmica”, diz Rafael Garcia, procurador do Ministério Público do Trabalho na Bahia. Ele aponta que a região de Barreiras recebe migração de pessoas do Piauí e do Maranhão.
“É próprio do fluxo migratório e da atividade econômica da soja”, explica. Além de Barreiras, as cidades de São Desidério, Formosa do Rio Preto e Correntina têm maior número de casos. Produtores de milho e algodão também têm casos frequentes de exploração.
Para a pesquisadora Gilca Oliveira, da Ufba, a extensão das fazendas e a dificuldade de acesso e conhecimento do terreno dificultam o combate. Há um ano, o MPT ingressou com uma ação civil pública contra a Mauricéa Alimentos: 29 pessoas trabalhavam, em Barreiras, no apanhamento de frangos sem equipamentos de proteção, eram submetidos a jornadas de mais de 14 horas e, recrutados em Brasília, foram enganados quanto à disponibilidade de alojamento.
Em juízo, a empresa não reconheceu o vínculo de trabalho com os resgatados. Além de a Bahia ocupar o terceiro lugar nacional em registros de trabalho escravo, 8,2% de todos os trabalhadores resgatados no país são baianos — o que deixa o estado em segundo lugar no ranking, empatado com Minas Gerais (8,2%) e Pará, que têm o mesmo índice.
Em primeiro lugar estão os maranhenses, que representam 25,5% dos trabalhadores resgatados, segundo dados do Seguro Desemprego. Em 2012, 24 trabalhadores baianos, naturais de Formosa do Rio Preto, no Centro-Oeste, foram resgatados no sul do Piauí.
O empregador era um fazendeiro baiano, que mantinha os trabalhadores em alojamento sem higiene e os obrigavam a pagar pela estadia, transporte e ferramentas usadas no trabalho.