Até agora os produtores rurais do oeste da Bahia só comercializaram 42% da safra de soja deste ano. Ano passado, nesta mesma época, mais de 70% dos grãos já tinham sido vendidos para o mercado internacional. O “freio” no ritmo das negociações tem sido uma escolha dos próprios agricultores, que estão preferindo aguardar melhores cotações.
Os produtores rurais costumam negociar a produção através das trades, empresas especializadas na compra da safra que ainda vai ser colhida. É um sistema de mercado futuro, onde as empresas compram antecipadamente a produção que ainda está no campo, estabelecendo preços fixos para os grãos, independente das variações de mercado.Atualmente o preço da saca está girando em torno de R$ 65, em média. O valor, abaixo dos praticados no ano passado, é considerado estável, mas muitos produtores ainda acreditam que a cotação pode subir. Não há pressa, quando bem armazenado o grão pode ficar guardado por um longo tempo, mais de um ano.
As indefinições do mercado internacional são os principais fatores a influenciar nas baixas cotações do produto. A prolongada crise comercial entre Estados Unidos e China é um dos motivos. As vendas entre os dois países continuam travadas, a ponto da super safra americana continuar estocada, e já começar a apodrecer nos armazéns. É que os agricultores americanos também estão esperando melhores cotações para comercializar a produção, e aguardam cautelosos o fim do embate diplomático com os compradores asiáticos.
Os produtores brasileiros estão de olho nesta relação conturbada, já que os chineses continuam comprando a soja brasileira, mas podem reduzir o volume de negócios, caso voltem a comprar na mão dos americanos.
“Existe uma grande expectativa que o acordo comercial entre a China e os Estados Unidos possa mexer com o preço. Por isso, vamos estocar, e só estamos travando negócios com a quantidade de soja suficiente para pagar as contas, tocar os negócios e honrar os nossos compromissos. Temos esperança de alta nos meses subsequentes”, afirma Odacil Ranzi, vice-presidente da Associação dos Agricultores do Oeste da Bahia (AIBA).
A situação ficou ainda mais preocupante na última sexta-feira (8/3), depois que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) revisou para cima os estoques globais da oleaginosa. O volume estocado deve chegar a 107,17 milhões de toneladas em todo o mundo, apesar da seca e das altas temperaturas terem prejudicado cultivos em vários países e indicar queda nas próximas safras. O mercado recebeu o relatório com pessimismo, e as últimas cotações da soja fecharam em queda.
Colheita
Enquanto o preço da saca não sobe, os grãos estão amadurecendo no campo, e esta semana os agricultores estão começando a fase mais intensa de colheita da soja de sequeiro, cultivada sem irrigação e plantada mais tarde do que a soja irrigada. Cerca de 20% dos grãos já foram colhidos.
Apesar do veranico, que prejudicou as lavouras semeadas mais cedo, os agricultores esperam alcançar a marca de 54 sacas por hectare. Abaixo do recorde registrado em 2018, quando eles produziram 66 sacas por hectare. A produtividade esperada é 18% menor do que a do ano passado, porém, acima da média dos últimos 10 anos, que é de 48 sacas por hectare.
“Não teremos super safra, como no ano passado, e não vamos conseguir elevar o patamar dos últimos dois anos. Mas não é um número ruim. Nós nos acostumamos a sempre superar, mas o resultado mostra que os produtores estão com tecnologia implantada, solos adubados, perfil bom de cultivo e conseguem segurar a produtividade”, analisa Luiz Stalke, assessor de agronegócios da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA).
Os agricultores enfrentaram irregularidade de chuva e 30 dias de estiagem entre dezembro e janeiro, período crucial para o desenvolvimento da soja. A área plantada do grão foi reduzida para 1 milhão e 570 mil hectares, cerca de 30 mil hectares a menos do que em 2018.
Ano passado, os produtores da Bahia colheram mais de 6,3 milhões de toneladas de soja. Este ano, apesar das intempéries, a safra deve alcançar mais de 5,1 milhões de toneladas.
“O cenário ainda é positivo. Este ano não tivemos problemas com pragas e doenças, e até a ferrugem asiática, presente em muitos outros estados, está controlada. O que prova que nossos programas de controle de doenças surtiram efeito”, acrescenta Stalke.
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Colheita da soja é intensificada na Bahia, mas grãos vão ficar estocados. Foto: Sinprod / LEM Cicero Teixeira. |
Commodity
A soja irrigada plantada na região, que corresponde a 2% do total produzido, já foi toda colhida. Geralmente ela é plantada mais cedo. A soja é a base da ração animal e também faz parte da composição do biodiesel. O grão está no topo dos produtos de exportação do Brasil, e se consolidou como a principal commodity brasileira. Em 2018, o complexo da soja, que inclui a soja triturada, o farelo e os resíduos de extração do óleo, renderam mais de 150 milhões de dólares para balança comercial da Bahia, e representaram mais de 12,7% das exportações do estado.
Quase 50% da produção baiana vai para países asiáticos, principalmente para a China, maior comprador de soja do mundo. O restante fica no mercado interno, para consumo in natura ou para geração de produtos derivados, como o farelo.
A colheita na Bahia deve avançar até abril, e os produtores rurais ainda vão precisar enfrentar outro problema: o número insuficiente de silos para armazenar os grãos, um entrave antigo e frequente em várias partes do país.
Atualmente muitos agricultores utilizam o silo bag, uma espécie de bolsa provisória, que possui menor capacidade de armazenamento, e onde só é recomendando manter os grãos por no máximo 3 meses.