08/03/2020 às 09h59min - Atualizada em 08/03/2020 às 09h59min

Peixes lutam pela vida no Riacho do Boqueirão dos Macacos em São Gonçalo do Gurgueia

Local sofre as consequências do rompimento em bacia de contenção do canteiro de obras da Usina Solar São Gonçalo

Viviane Setragni
Portal Corrente
Os moradores da localidade Boqueirão dos Macacos, zona rural do município de São Gonçalo do Gurgueia, foram surpreendidos na manhã desse sábado(7) com tristes cenas dos peixes lutando pela vida no riacho assoreado. O local sofre as consequências do rompimento de uma bacia de conteção do canteiro de obras da Usina Solar São Gonçalo no dia 29 de fevereiro, em que grande quantidade de água e sedimentos desceram a encosta da serra que permeia a obra, causando sérios danos nos brejos, nascentes e riachos da região que é o berço de vários afluentes do Rio Gurgueia.
 

 
De acordo com populares, a vida da comunidade girava em torno das águas do riacho, agora assoreado. Além de utilizarem a água para irrigar pequenas plantações e criações de animais, ela também era o principal local de lazer e de banhos diários. "Crescemos nos banhando nesse riacho, é muito triste ver o que aconteceu, não sabemos o que vai ser daqui pra frente. Nosso maior medo é que o Rio Gurgueia morra", declarou um morador do local.

Além do assoreamento dos riachos, há relatos de que poços artesianos na região estariam com a água turva. Segundo testemunhas, não seriam poços localizados exatamente no local do acidente, mas sim próximos. "Não sabemos o que está acontecendo, mas esses poços estão com a água amarelada. Temos grande preocupação com a nossa saúde", desabafa outra moradora.

 

Boqueirão dos Macacos (antes/agora) Foto: Joilma Barreira

Esta é a terceira vez que acontece um acidente semelhante no canteiro de obras. Em março de 2019 o primeiro problema foi registrado, tendo sido denunciado pela prefeitura à SEMAR e ao Ministério Público, que nada fizeram. A segunda vez foi no dia 5 de fevereiro deste ano, novamente denunciado pessoalmente pelo prefeito na sede da SEMAR. Entretanto, o rompimento do dia 29 registrou estragos maiores.

Nesta última semana, uma equipe da SEMAR esteve no local realizando uma auditoria. O que foi constado pelos Auditores Ambientais é que as bacias de contenção que eram para amortecer a “cheia” não funcionaram.  “A bacia de contenção, que deveria barrar a vazão de pico, não funcionou, ocasionando o transbordamento.  Então vamos subsidiar a empresa na adoção da melhor medida técnica de emergência para conter a água e atuar em relação as medidas de monitoramento e as sanções, verificando a conformidade do que está no projeto com o que foi executado”, explica o auditor Felipe Gomes. 

Nesta sexta-feira, foi entregue aos representantes da ENEL, em mãos, a portaria para apuracão das responsabilidades cível e administrativas, assim como a determinação de entrega do plano de ação  emergencial e o cronograma das atividades para mitigar os efeitos do impacto ambiental e social.

Por outro lado, em Teresina, o presidente da Fundação Rio Parnaíba (FURPA), Victor de Aguiar Andrade Filho, luta para ter acesso, através do Ministério Público, ao licenciamento ambiental concedido pela SEMAR à multinacional Enel Green Power para a construção do Parque Solar. "É inadimissível que esse empreendimento continue causando danos tão graves a uma região que é o berço do Rio Gurgueia, um dos maiores afluentes do Rio Parnaíba", ressalta Aguiar.

Durante essa semana, os deputados estaduais aprovaram requerimento para a realização de uma Audiência Pública no município para debater o problema.

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