24/08/2021 às 09h07min - Atualizada em 24/08/2021 às 09h07min

Presidente do Sindicato Rural de Bom Jesus faz duras críticas ao deputado Ziza Carvalho por vídeo publicado

Ascom
Foto: Ascom

O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais da Microrregião de Bom Jesus/PI, Moysés Barjud, escreveu um artigo em resposta ao vídeo que circulou nas redes sociais neste final de semana, em que o deputado estadual Ziza Carvalho diz que o agronegócio do estado deveria bancar as próprias estradas para o escoamento da produção já que, segundo ele, o setor possui alto poder aquisitivo, o suficiente para construir aeroportos dentro das próprias fazendas e que é praticamente inexistente o número de piauienses produzindo no cerrado.

Barjud inicia o texto lembrando que o próprio deputado "sequer é dos piauienses puros", lembrado que ele tem influiências goianas, e fala sobre a vida política do deputado. Ele descorre explicando que há muito tempo não há diferença entre "forasteiros" e piauienses na região do cerrado piauiense, onde "tudo tornou-se natural e comum, como um pequi, que brota tanto no Goiás como no cerrado e no semiárido do Piaui", e destaca ainda a pujança do agronegócio no estado. "Talvez no Goiás ainda não saibam que desde 2015 o Piauí teve seu cadastro na Conab modificado para exportador de milho: produz todo o milho que precisa para seu consumo interno e exporta seu excedente", cita Barjud

Ele afirma que, por opção, não publicou uma nota em nome do sindicato e reforça que "não há goiano besta", sendo o objetivo do deputado senão o de chamar atenção fora do seu reduto eleitoral, na região de Simplício Mendes.

Confira o artigo na íntegra:


O Piauí está vendendo o almoço pra comprar a janta?

O Deputado Estadual pelo PT Ziza Carvalho divulgou em suas redes sociais um video em que ele aponta a inexistência de piauienses na região de produção de grãos dos cerrados e o elevado poder aquisitivo dos produtores rurais “de fora” que la existem como justificativa para privar-lhes de infraestrutura, devendo a atenção pública voltar-se para o semiárido. Apontou que a gauchada, que segundo ele só alimenta a China, é tão rica que chega a possuir aeroportos privados melhores do que os públicos e, sendo assim, tem condição de se virar com suas próprias estradas.

A análise econômico-social feita pelo Deputado suscitou polêmicas e recebeu notas de repudio por parte da seccional piauiense da Associação Brasileira dos Produtores de Soja e da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado. Como presidente do Sindicato dos Produtores Rurais da Microrregião de Bom Jesus/PI, fui instado a também publicar a repulsa da nossa instituição àquela fala que foi vista não apenas como equivocada e injusta, mas também xenofóbica. Me posicionei contrário à divulgação de uma nota e, mantendo minha posição, optei por redigir este artigo ja que o tema merece uma análise, não apenas o repúdio, que é óbvio. Explico.

*Ziza Carvalho não é das figuras mais badaladas da política piauiense. A propósito, ele sequer é dos piauienses puros (como via de regra os xenófobos exigem), já que seu fenótipo sofreu forte influência goiana. Poucos devem saber - ou ao menos lembrar - que um dia em algum governo ele foi secretário de meio ambiente do Estado. Também não tem nos produtores do cerrado sua base eleitoral, nem mesmo representa de forma maciça os produtores do semiárido, mas apenas uma fração pequena deste na região de Simplício Mendes/PI que sequer foi suficiente para elege-lo, mas apenas garantir-lhe a suplência da Deputada eleita Janaina Marques, do PTB.
Por outro lado, vislumbrando o currículo do Deputado (procurador do Estado do Goiás, professor de Direito etc), não consigo acreditar ser ele um sujeito simplório e alienado, como tenta parecer ao expor em seu vídeo opiniões sem qualquer forma ou figura de racionalidade, seja aqui seja no Goiás.

Não! E por isso me recusei a divulgar contra ele uma nota de repúdio. É que, tratando-se de alguém com conteúdo intelectivo, mostrou-se óbvio para mim que seu objetivo não era xenofóbico, tampouco de reivindicação de algo em favor do semiárido. Há anos não existe mais no Piauí essa dicotomia entre sojicultores gaúchos e pecuaristas (bovino, caprino, ovino, aves etc.) piauienses. Talvez do Goiás o jurista Ziza Carvalho não tivesse ouvido falar que há aproximadamente vinte anos tudo se miscigenou no Piaui: o nascido na região sul do Brasil virou piauiense por opção; seus filhos e netos nasceram em terras piauienses; os colégios de Uruçui e Sebastiao Leal acostumaram-se a ver na chamada de presença os sobrenomes Sanders, Werner, Dalto, Barille misturados aos Silva, Santos e Cruz. O pujante comércio de Bom Jesus, Gilbués, Monte Alegre do Piaui, Palmeira do Piaui e Santa Filomena há anos não vê mais diferença entre vender para um Martins, um Leal, um Gois ou um Fritzen, Bordignon, Manganelli ou Pieta. Tudo tornou-se natural e comum, como um pequi, que brota tanto no Goiás como no cerrado e no semiárido do Piaui. O milho produzido pelo piauiense do cerrado - aquele mesmo do aeroporto bem estruturado - alimenta a galinha caipira produzida pelo piauiense do semiárido, que é vendida no comércio para aquele mesmo piauiense do agronegócio que dela se alimenta no almoço para logo em seguida fazer uma cuia de chimarrão: ele e seus quinhentos funcionários diretos e muitos outros piauienses que viram suas vidas serem transformadas positivamente por essa mistura. Talvez no Goiás ainda não saibam que desde 2015 o Piauí teve seu cadastro na Conab modificado para exportador de milho: produz todo o milho que precisa para seu consumo interno e exporta seu excedente, sendo mais ainda autossuficiente em soja. Há grãos suficientes no Estado para fomentar a avicultura e caprinocultura de Simplício Mendes, assim como, graças aos seus  produtores rurais, o Piauí tem sido abençoado com fartas divisas que permitiriam ao seu governo, com a receita de um ano, asfaltar as intransitáveis PIs 392 e 397 (principais obras de logística pleiteadas pelo agronegócio), bem como amparar o semiárido em toda sua amplitude, não apenas no reduto do suplente de Deputado Estadual Ziza Carvalho. 

Não! Não há sinceridade nas palavras ofensivas dele. Ainda que tendo migrado há relativamente poucos anos do Goiás de volta para o Piauí, ele sabe que aqui o Estado não está vendendo o almoço para comprar a janta e o que pode estar faltando é um pouco de político “ponta firme” e de política pública que respeite os produtores do semiárido com a mesma intensidade com que são respeitados pelos produtores do agronegócio. 

Não é necessário privar os produtores do semiárido de estradas para que se asfalte o cerrado nem vice-versa e o deputado, como bom político, sabe que no próximo ano - ano de eleição - teremos asfalto sendo feito pelo DER tanto no cerrado quanto no semiárido e que o problema não é dinheiro ou local de nascimento, mas pura numerologia: como ja disse em outras oportunidades, 2022 é um número auspicioso, favorável para se espalhar asfalto pelo estado, ao contrário de 2021!

Não! Nunca vi goiano besta. Ziza Carvalho não queria ofender o “gaúcho”, boicotar estrada do agronegócio nem mesmo levar infraestrutura ao semiárido. O que ele queria já conseguiu quando as notas de repúdio foram publicadas: ter seu nome exportado de Simplício Mendes pelas mãos do agronegócio e com isso alcançar a simpatia daqueles que, vivendo no mundo da lua, acham que fome se mata com amor.*

Moysés Barjud

Presidente do Sindicato dos Produtores Rurais da Microrregião de Bom Jesus/PI



Além do representante do sindicato de Bom Jesus, várias entidades manifestaram-se, tendo ampla repercussão negativa na mídia as declarações do parlamentar. Além da nota de esclarecimento publicada no domingo, o deputado publicou uma nota, fez pronunciamento na Assembleia e participou de entrevista nesta segunda-feira (23) explicando o seu posicionamento.

Nota de esclarecimento

Em virtude da grande repercussão que teve o vídeo postado em um grupo de WhatsApp, feito, em momento de descontração, entre amigos, em conversa informal entre os integrantes do grupo, e que, em determinado momento, fez menção às rodovias estaduais, reforço que quis tão somente reforçar a importância de se por em discussão, também, a atuação dos produtores da região do semiárido piauiense, rica em importantes arranjos produtivos, como a produção de mel orgânico, a ovinocaprinocultura, bem como a criação de galinha caipira de canela preta. Muitas vezes os governantes precisam fazer escolhas temporárias para a implementação de políticas públicas. A intenção não foi em nenhum momento desmerecer ou ofender os produtores do cerrado piauiense.
É indiscutível a importância do agronegócio nos cerrados para o desenvolvimento do Estado, bem como são bem-vindos todos os que aqui vieram desbravar e empreender.

(Deputado Ziza Carvalho)

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