22/01/2024 às 09h47min - Atualizada em 22/01/2024 às 09h47min

Pesquisa identifica remanescentes de quilombolas na região Extremo-Sul do Piauí

Viviane Setragni
Portal Corrente
Uma pesquisa conduzida pela professora dra. Norivan Lustosa Lisboa identificou possíveis remanescentes de quilombolas na região Extremo-Sul do Piauí. A constatação foi feita a partir de uma investigação detalhada e conversas com a comunidade, incluindo os idosos de Corrente e Cristalândia, unida ao trabalho da professora historiadora Airan Oliveira, outra entusiasta pela temática, que tem trabalhado continuamente com seus alunos, resgatando a história, através de atividades didático-pedagógicas e visitas tecnicas às comunidades. 
 
Norivan conta que partir da troca de informações com a colega professora, a pesquisa ganhou força e o quebra-cabeça começou a ser montado.

"No século XVIII, o povoado de Parnaguá viu a chegada de portugueses em busca de terras para a criação de gado, destacando-se o Capitão-Mor José da Cunha Lustosa, que se estabeleceu na Fazenda "Brejo do Mocambo", local que abriga um museu arqueológico, revelando resquícios da Casa Grande e instrumentos de tortura utilizados para punir e humilhar os escravizados, conforme pesquisado pelo professor Edilson Nogueira. José da Cunha Lustosa deixou um legado significativo na região, resultando em uma descendência numerosa que se espalhou por diferentes fazendas no Extremo-Sul do Piauí, abrangendo até mesmo áreas limítrofes com o estado da Bahia, incluindo aquelas que hoje integram o município de Cristalândia do Piauí", relata a pesquisadora.

 
Nesse contexto, a presença de negros e agregados dinamizava as fazendas, recebendo em troca do trabalho, apenas um prato de comida ou ajudas ínfimas. Alguns, revoltados com a exploração, decidiram fugir para o mato em busca de uma vida mais digna, dando origem aos quilombos.
 
"Portanto, os remanescentes quilombolas são grupos étnico-raciais com uma história única, relações territoriais específicas e uma presunção de ancestralidade negra, delineada pelo Decreto n.º 4.887, de 20 de novembro de 2003, que atribui à Fundação Cultural Palmares (FCP) a responsabilidade pelo reconhecimento dessas comunidades, como nós entendemos ser o caso identificado por nós e relatado na pesquisa, conforme documentação", explica Norivan.
 
Com esse propósito, a pesquisadora reuniu-se com a Diretora de Proteção ao Patrimônio Afro-brasileiro, Flavia Costa, e a Coordenadora de Projeto, Ecy Freitas, na sede da Fundação Cultural Palmares em Brasília, DF, no dia 15 de janeiro de 2024. Nesse encontro, apresentou a história dos possíveis remanescentes quilombolas e entregou a documentação necessária para iniciar o processo de reconhecimento de duas comunidades quilombolas, ambas em Cristalândia do Piauí, que atualmente abriga mais de 80% da população negra.
 
  

Norivan destaca que certamente há mais remanescentes de quilombos na região, com potencial para serem reconhecidos. Ela está trabalhando para ampliar a pesquisa para outros municípios. "Essa pesquisa já ocorre há alguns anos e o reconhecimento dessas comunidades representa o início de um resgate histórico que visa fortalecer a inclusão social e a igualdade de oportunidades para essas comunidades historicamente marginalizadas. Além disso, reflete meu compromisso com os princípios de justiça, participação e respeito aos direitos humanos, especialmente com a população desse território, que representa minha terra natal."
 
A profa. Norivan Lustosa Lisboa é Doutora em Educação pela UNB e professora da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e idealizadora do Projeto Caminhos da Esperança, entidade sem fins lucrativos que atende crianças e adolescentes no município de Cristalândia do Piauí.

A professora Airan Oliveira é licenciada em história e trabalha na escola estadual Oberlim da Cunha Nogueira em Cristalândia.

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